Esta semana voltaram aos noticiários as manchetes sobre a reforma política em tramitação no Congresso. Uma reforma “Frankestein”, que, ao contrário de sanar nossas mazelas e tentar mudar o rumo de nosso cotidiano político, está criando mais monstros que procuram se perpetuar no poder.
Na realidade a coisa está se desencadeando de forma invertida. De uma forma utópica de visão, o correto seria que nossa sociedade discutisse e revisse nossa cultura geral. Não aquela cultura educacional somente, mas principalmente a moral. É na moral que nascem as nações poderosas e pujantes da humanidade. É dela que vem as escolhas corretas que dão suporte para o crescimento justo e correto de uma comunidade pois daí que nascem as lideranças certas para os problemas a serem enfrentados por todos. Pois é uma reforma moral que o país necessitaria fazer antes de pensar em quaisquer outras reformas.
Mas voltemos à realidade. Sabemos bem que isso não se constrói da noite para o dia e nem de uma vontade unilateral. Precisamos rever nossa base familiar, nossas referências e nossa vocação histórica. Pois aí é que desanda toda a utopia e a realidade nos golpeia sem dó. A história da construção do Estado brasileiro nos mostra que já nascemos tortos. Fomos forjados como nação extrativista, com potencial enorme para abrigar refugos sociais e nenhum planejamento sobre as potencialidades que esta terra possui. Eis que fomos, desde nossas priscas eras, fadados a receber o que de culturalmente, em termos de capital social, tem de pior a raça humana.
Primeiro foram os “colonizadores”, extrativistas refugados de uma Portugal já empobrecida no quesito riqueza social, que, enviados para cá pois lá não possuíam mais qualquer possibilidade de pertencerem a uma aristocracia, cá chegaram sem nenhuma noção do que fazer com suas capitanias hereditárias. Ao contrário de uma força empreendedora de quem buscava realmente colonizar uma terra e cultivá-la para a prosperidade, nossos infelizes excluídos chegaram aqui somente para extrair (saquear) nossas riquezas naturais e enviá-las ao velho mundo.
Daí em diante, com o perdão do resumo histórico, recebemos uma família real fugida e acuada, sem poder sequer de resolver seus problema pessoais, para nos governar. Golpe após golpe, passamos dois séculos praticamente a esperar que nossa terra ainda tenha um salvador da pátria e não nos demos conta de que infelizmente podemos estar eternamente condenados a esse fardo social exatamente pelo nosso começo.
Por isso de eu estar aqui falando sobre a reforma política. Uma reforma que mantém certos absurdos como os mais de R$ 2 bilhões de dinheiro público pago em impostos destinados aos partidos (o tal Fundo Partidário), como uma lista fechada usada para blindar os caciques de seus crimes passados e não permitir renovação alguma e, para piorar, uma tal de candidatura híbrida onde o sujeito, ao não alcançar êxito numa eleição majoritária por exemplo, pode ser “encaixado” na lista e ganhar um mandato na proporcional. Ou seja, a reforma não reforma nada, só garante o poder daqueles que herdaram a maldita moral de nossos gloriosos colonizadores. Pena que a verdadeira reforma, a moral, seja somente um devaneio utópico de poucos.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
Contato: cc.consultoria33@gmail.com