

Foto de JOHN CAIRNS/UNIVERSIDADE DE OXFORD/DIVULGAÇÃO
Fórmula produzida em parceria com a AstraZeneca está sendo testada no Brasil. Resultados promissores semelhantes foram divulgados quase simultaneamente em relação à vacina da China e a desenvolvida pela BioNtech-Pfeizer
Um artigo publicado nesta segunda-feira pela revista científica The Lancet concluiu que a vacina candidata da Universidade de Oxford (Reino Unido), produzida em parceria com o laboratório AstraZeneca, demonstrou ser segura, ter poucos efeitos secundários e ter estimulado a produção de anticorpos e células do sistema imune contra o novo coronavírus. A fórmula está sendo testada no Brasil em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e O Instituto D’Or, no Rio.
Além da vacina de Oxford, outras duas pesquisas anunciaram resultados promissores semelhantes. A China disse que a vacina contra a Covid-19, que chegou hoje ao Brasil e começará a ser testada amanhã, desenvolvida pela CanSino Biologics Inc e pela unidade de pesquisa militar chinesa, também mostrou resposta imune segura e induzida na maioria dos receptores.
A empresa alemã de biotecnologia BioNTech e a farmacêutica americana Pfizer divulgaram, também nesta segunda-feira, dados adicionais de sua vacina experimental contra o coronavírus que provam que ela é segura e foi capaz de induzir resposta imunológica nos pacientes.
Os resultados publicados agora dizem respeito aos testes da fase 1/2, realizada no Reino Unido com 1.077 pessoas. Os dados são promissores, mas, para ser produzida, a vacina ainda precisa passar pela terceira e última etapa de testes, em andamento no Brasil, na África do Sul e no Reino Unido.
De acordo com a Lancet, na fase 1/2, a fórmula estimulou respostas imunológicas “potentes” tanto na frente humoral (produção de anticorpos) e celular (ativação de linfócitos, células do sistema imune), se aplicada em dose dupla.
— Nós acreditamos que os resultados indicam que o sistema imunológico se lembrará do (genoma do) vírus, ou seja, que nossa vacina protegerá as pessoas por um período prolongado — afirmou o líder do estudo, Andrew Pollard, da Universidade de Oxford. — No entanto, precisamos de mais pesquisa antes de confirmar que esta fórmula efetivamente protege contra o Sars-CoV-2 e por quanto tempo durará a imunidade.
Segundo os resultados dos testes iniciais, a vacina provocou uma resposta de células T (glóbulos brancos que podem atacar células já infectadas com o vírus Sars-Cov-2) 14 dias após a vacinação, e uma resposta de anticorpos após 28 dias – os anticorpos são capazes de neutralizar o vírus para que ele não possa infectar células.
Andrew Pollard explicou que a resposta imune foi mais forte nos dez participantes que receberam uma segunda dose da vacina, indicando que a vacinação em duas etapas pode ser uma boa estratégia.
Em entrevista coletiva à imprensa na manhã desta segunda-feira, Mene Pangalos, vice-presidente executivo de Biofarmacêuticos e de Pesquisa e Desenvolvimento da AstraZeneca, afirmou que ainda não está claro se uma dose será suficiente, e “o melhor a fazer agora é trabalhar com o plano de duas doses, já que a resposta imune se mostrou ainda mais forte (com uma segunda aplicação)”.
Sobre resultados de outras vacinas anunciados também nesta segunda-feira, Pangalos disse que não é possível estabelecer comparações, já que os estudos usam metodologias e plataformas tecnológicas distintas.
— A esperança é que teremos várias vacinas. É importante para o mundo ter diferentes tecnologias e diferentes fórmulas, que terão suas vantagens e desvantagens — completou Pangalos.
O estudo de fase 1/2 teve início em 23 de abril e seguiu até 21 de maio, no Reino Unido. Nesse período, foram vacinados adultos com idade entre 18 e 55 anos. Os dados são encorajadores, mas preliminares, como ressaltou Pascal Soriot, CEO da AstraZeneca. As informações cruciais para a aprovação da vacina, lembrou, dependem dos dados da fase três.
— É difícil fazer uma previsão, mas acreditamos que teremos esses dados entre setembro e novembro. O Brasil vai nos ajudar (com os resultados dos testes no país), e estamos prontos para produzir em seguida. A questão é quão rápido conseguiremos esses resultados clínicos — disse Soriot.
OMS vê resultados ‘positivos’
Em coletiva de imprensa na sede da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra, o diretor do Programa de Emergências em Saúde da entidade, Mike Ryan, avaliou os dados de Oxford como “positivos”, mas ponderou que ainda há um longo caminho a ser percorrido até a viabilização de uma vacina.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, demonstrou preocupação com a eventual distribuição de uma vacina de eficácia comprovada. Para Adhanom, é urgente que haja um “compromisso político” para favorecer a logística, embora alguns países “estejam se movendo na direção contrária”, sem citar casos específicos.
Na mesma linha, Ryan reforçou que a tarefa é “desafiadora”, uma vez que é preciso garantir uma escala de produção muito ampla para atender a toda a população mundial.
Brasil
No mês passado, o Ministério da Saúde anunciou uma parceria com a universidade britânica para a produção de 30,4 milhões de doses da vacina, com um investimento de US$ 127 milhões. O primeiro lote deve ser produzido em dezembro e o segundo em janeiro pela Bio-Manguinhos, laboratório da Fiocruz. Segundo o ministério, as doses só serão ministradas após a finalização dos estudos clínicos e a comprovação da eficácia da vacina. O acordo anunciado prevê compartilhamento da tecnologia de produção da vacina com a Fiocruz.
Pela parceria anunciada, o governo brasileiro receberá o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) produzido por Oxford para a produção dos lotes. Caso seja comprovada a eficácia da vacina, ela será ministrada para grupos de risco — e profissionais de saúde também terão prioridade. Após a comprovação da eficicácia da vacina, o governo brasileiro produzirá mais 70 milhões de doses, com um valor estimado de US$ 161 milhões.
No Rio, os testes são conduzidos pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e da Rede D’Or, que vai custear primeira fase da pesquisa. Em São Paulo, os testes estão a cargo do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp. A Fundação Lemann está financiando a estrutura médica e os equipamentos da operação.
No fim de junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a vacina ChAdOx1 nCoV-19, como é chamada oficialmente, era a “mais avançada” do mundo “em termos de desenvolvimento” e lidera a corrida por um imunizante contra a Covid-19. Além do Brasil, a fórmula está sendo testada na África do Sul e no Reino Unido, e há previsão para uma nova fase de trabalhos nos Estados Unidos.
O Brasil também está testando outra vacina, produzida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech, em uma iniciativa do Instituto Butantan. As primeiras doses do imunizante chegaram hoje no país. O carregamento foi trazido por um voo de Frankfurt, na Alemanha, que aterrissou no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Segundo o G1, as vacinas devem chegar ao Butantan ainda nesta segunda-feira. Na primeira etapa de testes, já autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), serão vacinados profissionais de saúde de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná, além do Distrito Federal.
Alternativas promissoras
A empresa alemã de biotecnologia BioNTech e a farmacêutica americana Pfizer divulgaram, nesta segunda-feira, dados adicionais de sua vacina experimental contra o coronavírus que provam que ela é segura e foi capaz de induzir resposta imunológica nos pacientes.
Os resultados referem-se a um teste feito na Alemanha com 60 voluntários saudáveis que, após tomarem duas doses da vacina, produziram anticorpos. Os dados complementam o anúncio, feito no início do mês, de resultados positivos de um teste em estágio inicial, feito nos Estados Unidos.
De acordo com as empresas, foram verificadas respostas imunes “fortes” e em velocidade anterior ao prazo estimado das chamadas células T, consideradas fundamentais para protegerem um organismo do novo coronavírus. Esses dados deverão agora ser revisados para sua publicação oficial.
Uma outra vacina candidata, desenvolvida pela CanSino Biologics Inc e pela unidade de pesquisa militar da China também mostrou resultados considerados promissores, anunciaram pesquisadores também nesta segunda-feira. Segundo os cientistas, a resposta imune foi segura e induzida na maioria dos receptores.
A candidata do CanSino, chamada Ad5-nCOV, é uma das poucas vacinas que se mostraram promissoras em testes em seres humanos e está se preparando para ensaios em estágio avançado, juntamente com projetos envolvendo a Moderna Inc, BioNTech SE e Inovio Pharmaceuticals Inc.
Embora a vacina do CanSino ainda não tenha iniciado ensaios clínicos de larga escala em estágio avançado para avaliar quão bem funciona para impedir infecção em seres humanos, ela recebeu o sinal verde para ser usada nas forças armadas da China.
(O Globo)