Desde o ano de 2016, o município de Poço das Antas vive uma verdadeira revolução quando o assunto é sucessão rural. Na contramão de muitas cidades, a Prefeitura local, apoiada por várias entidades – entre elas a Emater/RS-Ascar – investe em políticas públicas que possam contribuir para a permanência do jovem agricultor no campo. Não por acaso, de lá para cá, um levantamento feito recentemente no município dá conta de que a continuidade das atividades agrícolas de pais e de avós deverá ocorrer em 50 propriedades, com cerca de 35 jovens já possuindo um projeto produtivo próprio.
O extensionista da Emater/RS-Ascar Ricardo Cord explica que esse “movimento” teve início quando da implantação do Programa de Gestão Sustentável da Agricultura Familiar (PGSAF) – operacionalizado pela Instituição por meio de convênio com o Governo do Estado – e do Plano Socioassistencial local, que buscava a inclusão social e produtiva, com ênfase na sucessão rural. “Foi a partir daí que foram construídas estratégias que evitavam a exclusão do jovem do campo, oportunizando o acesso a políticas públicas, estimulando a sua participação em atividades de qualificação e fomentando ações de caráter produtivo”, explica.
Cord lembra que, ainda em 2016, foi realizado um diagnóstico em cada propriedade que contava com jovens. “A nossa intenção era ouvi-los, era compreender quais eram seus anseios, suas dificuldades, seus objetivos ou sonhos para o futuro”, recorda. Em cada conversa, o aceno para que o jovem refletisse sobre modelos produtivos ou de desenvolvimento rural sustentável, mas sem abrir mão de ter uma renda própria, com qualidade de vida. “A ideia geral era emancipar o jovem, estimulando-o para a construção de um projeto produtivo próprio, com vistas a ‘empoderá-lo’”, pondera o extensionista.
Foi dessa forma que o casal Laércio Goelzer e Karina Both, da localidade de Linha Goelzenberg, iniciou a produção de morangos, no último ano. “Com o apoio da família, a gente já trabalhava com produção de frangos e de ovos e estávamos em busca de um projeto produtivo que fosse nosso”, enfatiza Karina. Ambos chegaram a sair da propriedade dos pais e a trabalhar na cidade, mas retornaram a partir das políticas de estímulo do Estado e do município que, além de renda, lhes garantem infraestrutura – no local há internet, TV a cabo e foram feitas melhorias na rede de celular. “Fora o fato de aqui, a gente é o ‘patrão de si’” resume Goelzer.
O sentimento de Laércio e Karina é compartilhado pelo casal Artur Nandi e Camila Follmann, da localidade de Boa Vista. Na tradição da família Follmann sempre esteve presente a produção de leite e de suínos. Camila saiu da propriedade para trabalhar fora, voltou e, apoiada por Artur, viu também no cultivo de morangos, alternativa de renda. “Na realidade somos como qualquer outro jovem, a gente gosta de sair pra passear, visitar os amigos e os parentes, utilizar a internet, ir ao baile”, observa Camila. “Mas sem abrir mão de termos a nossa renda, sem ter de ficar pedindo para os pais”, sublinha.
Para Ricardo este também é um diferencial que levou o município a ter tantas conquistas quando o assunto é sucessão rural. “O jovem foi ouvido”, pontua. Como exemplo, cita o fato de ambos os casais poderem escolher com o que iriam trabalhar dentro da agricultura, o que é um estímulo. “No passado tanto a família da Camila, como a do Laércio eram produtores de carvão vegetal, um tipo de atividade mais penosa, de grande sacrifício”, observa o extensionista. “Hoje em dia esses jovens seguem nas propriedades dos pais, mas tem as suas casas próprias, participam das decisões, tendo mais confiança e conhecimento de suas realidades”.
Não por acaso, como forma de estimular ainda mais os jovens do município, a Prefeitura criou o Prêmio de Contribuição ao Desenvolvimento Poçoantense que, na edição desse ano, premiou cinco jovens rurais – estando entre eles os casais citados nesta reportagem. “A gente percebe que o debate sobre sucessão é urgente e precisa sair do papel”, lembra Cord, reafirmando o papel da Extensão Rural no apoio a agricultores familiares que muitas vezes se veem em condições desiguais no acesso ao mercado. Para o extensionista é preciso superar a visão preconceituosa do jovem rural como alguém atrasado ou sem perspectivas. “Somente assim eles sairão da invisibilidade”, finaliza.
Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar – Regional de Lajeado
Jornalista Tiago Bald