A água que abastece uma em cada quatro cidades brasileiras está contaminada por agrotóxicos, essa foi a triste e alarmante notícia divulgada no útimo dia 15 de abril. Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye. As informações são parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento de todo o Brasil.
Entre 2014 a 2017 as empresas de abastecimento de 1.396 municípios realizaram testes, que são obrigados por lei, para identificação de 27 pesticidas. Os números revelam que a contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Em 2015 subiu para 84% e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017.
Os 27 agrotóxicos testados foram encontrados na água de vários municípios em diferentes estados. O Estado de São Paulo lidera o ranking com 504 cidades onde foram detectados todos os 27 agrotóxicos. No RS, 14 cidades também identificaram a contaminação por todos esses venenos. Para você que ficou curisoso com a nossa região e com a nossa cidade pode clicar e conferir tudo no mapa interativo divulgado pelas organizações que compilaram os dados: http://portrasdoalimento.info/agrotoxico-na-agua/#
Felizmente a cidade de Encantado não tem a água contaminada e segundo a Companhia Rio Grandense de Saneamento (CORSAN), empresa de abastecimento da nossa região: “Os dados utilizados na pesquisa foram retirados do Sisagua (Sistema de Abastecimento de Informação de Vigilância de Qualidade da água para Consumo Humano) e refere-se a amostras de água bruta (ainda não tratada). A empresa informa que, sempre quando é detectado algum agrotóxico na água bruta, é realizada a análise da água tratada correspondente, não havendo histórico de presença desse agente após tratamento”.
De qualquer forma seguimos preocupados com a situação do Brasil e do Estado, já que o número de agrotóxicos liberados no Brasil passa de 300 e não sabemos dos efeitos dessas substâncias a longo prazo, e muito menos da combinação dessas substâncias. Todos os agrotóxicos, individualmente podem causar danos a saúde e ao meio ambiente, mas quando existe uma associação dessas substâncias não se pode prever a reação delas no organismo humano.
Dos 27 tipos de pesticidas analisados, 16 são classificados como altamente tóxicos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e 11 associados à doenças como câncer, disfunções hormonais, doenças crônicas e malformação fetal. O próprio Ministério da Sáude alerta que “a exposição aos agrotóxicos é considerada grave problema de saúde pública” e lista como efeitos nocivos que podem gerar a puberdade precoce, o aleitamento alterado, a diminuição da fertilidade feminina e na qualidade do sêmen; além de alergias, distúrbios gastrintestinais, respiratórios, endócrinos, neurológicos e neoplasias.
Porém o Ministério da Saúde ressalta que ações de controle e prevenção só podem ser tomadas quando o resultado do teste ultrapassa o máximo permitido em lei. E aí está o problema: o Brasil não tem um limite fixado para regular a mistura de substâncias. Na União Européia 21 dos 27 tipos são proibidos e há também uma regra que busca restringir a mistura de substâncias: o máximo permitido é de 0,5 microgramas em cada litro de água – somando todos os agrotóxicos encontrados. No Brasil, há apenas limites individuais. Assim, somando todos os limites permitidos para cada um dos agrotóxicos monitorados, a mistura de substâncias na nossa água pode chegar a 1.353 microgramas por litro sem soar nenhum alarme. O valor equivale a 2.706 vezes o limite europeu.
A nível municipal, a Emater através de ações de assistência técnica e extensão rural orienta os agricultores sobre as boas práticas agropecuárias, os cuidados com o uso de agrotóxicos e os possíves efeitos adversos dos mesmos, assim como incentiva a produção orgânica. No entanto, pecebemos que estamos muito desprotegidos do ponto de vista da saúde pública. A liberação indiscriminada de agrotóxicos e o domínio das multinacionais no Brasil tem dominado o mercado e dificultado ações que incentivam a produção e o consumo de alimentos limpos.
Tatiane Turatti: Extensionista Social – Nutricionista
Escritório Municipal da Emater/RS – ASCAR Encantado
Fontes:
Redes de abastecimento de água no Brasil contêm 16 pesticidas altamente tóxicos
“Coquetel” com 27 agrotóxicos foi achado na água de 1 em cada 4 municípios
https://apublica.org/2019/04/coquetel-com-27-agrotoxicos-foi-achado-na-agua-de-1-em-cada-4-municipios-consulte-o-seu/
Corsan Encantado