Para ampliar o número de doadores, o país tem o desafio de informar e sensibilizar as famílias para que elas autorizem a realização de transplantes. Hoje, 43% ainda recusam a doação. A média mundial é de 25%, segundo a coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes, Rosana Reis. Para mudar esse quadro, o Ministério da Saúde lançou ontem (27), Dia Nacional da Doação de Órgãos, a campanha Família, quem você ama pode salvar vidas.
A campanha busca estimular as pessoas a compartilharem com suas famílias o desejo de serem doadoras de órgãos. Isso porque, após a ocorrência da morte encefálica, é a família quem decide ou não pela doação.
“O Brasil é uma referência nessa área e nós temos procurado, com essa campanha, sensibilizar cada vez mais famílias para que autorizem o transplante de seus entes queridos que já não tenham mais possibilidades de continuar conosco, e que eles possam permitir que outras pessoas vivam com suas vidas”, detalhou o ministro da Saúde, Ricardo Barros, acrescentando que a operação garante expectativa de vida.
Segundo Rosana Reis, pesquisas de opinião registram amplo apoio dos brasileiros à doação. “O que a gente precisa é que essas famílias sejam suficientemente informadas e esclarecidas na hora em que a situação acontece”, completou.
Para isso, o ministério também fortalecerá ações de formação junto aos profissionais de saúde, que devem estar treinados para acolher as famílias e oferecer informações necessárias a elas sobre a importância dos transplantes.
Transplante também bateu recorde
O crescimento do número de doadores neste primeiro semestre fez o país registrar recorde no número de transplantes realizados no mesmo período. Ao todo, foram 12.086, o que representa um incremento de 8% em relação a 2016. Os transplantes de córnea foram os mais comuns: 7.865. Transplantes de órgãos diversos somaram 4.221. Segundo o ministério, foram realizados 2.928 transplantes de rim; 1.014 de fígado e 172 de coração.
Parte do aumento é explicada pela agilidade no transporte de órgãos pelo país, o que ocorre por meio de parcerias com companhias de aviação civil e também com a Força Aérea Brasileira (FAB). Apenas neste ano, foram realizados 2.402 transportes de órgãos, tecidos e/ou equipes por meio desses acordos de cooperação. De junho de 2016, quando decreto presidencial determinou a destinação de uma aeronave para essa finalidade, a FAB ampliou sua participação nesse número, com o transporte de 366 órgãos sólidos até setembro.
Houve queda apenas no número de transplantes de pulmão, variação negativa de 21,8% em relação ao ano anterior, e de pâncreas, com 40% a menos. Por isso, a área de pâncreas será beneficiada com o investimento de R$ 10 milhões, segundo anúncio do ministério. Desse recurso, 70% serão destinados a ações relacionadas a transplantes efetivamente e 30% incrementarão o setor de doações.
Lista de espera
Apesar do crescimento do número de doadores e de transplantes efetivados, ainda é longa a fila de espera por um órgão. Atualmente, 41.122 estão nessa condição. A maior demanda é por transplante de rim: 26.507. Em segundo lugar, está o transplante de córnea, com 11.413. O grande número de pessoas à espera de um rim decorre do fato de muitas adotarem terapias substitutivas que permitem a elas continuar vivendo enquanto aguardam a doação.
Estrutura de atendimento
O Sistema Único de Saúde (SUS) é o maior sistema público de transplante do mundo sendo responsável por 93% dos transplantes realizados no país. A coordenadora Rosana Reis explica que mesmo pessoas que têm planos de saúde buscam o sistema, porque nele há a segurança de que os pacientes receberão assistência até o fim do tratamento. A estrutura que garante essa rede é complexa. O país conta com 27 centrais de notificação, 506 centros de transplante, 825 serviços habilitados, 1.265 equipes especializadas e 72 organizações que atuam na procura por órgãos. Com toda a política de transplantes, o governo federal projeta gastar R$ 966,50 milhões em 2017.
O resultado é a garantia de vida. “Seguindo as orientações, a gente tem uma vida plena”, diz a atleta gaúcha Liège Gautério. Após cinco meses na fila, ela fez o transplante e passou a viver apenas com um pulmão. Educadora física, ela participou, depois da operação, de duas edições da Olimpíada dos Transplantados. A partir da própria realidade, Liège destaca a importância da doação. “Há seis anos, eu recebi essa segunda chance de viver, em função de uma família que disse sim para mim, para a minha equipe transplantadora e para outras”.
Texto: Agência Brasil