O locavorismo, caracterizado pelo consumo de ingredientes produzidos localmente, embora esteja em notoriedade não é algo novo. O consumo de ingredientes locais, respeitando a escala natural de produção, pode, por vezes, contrariar a cultura de produção imposta e claro, a necessidade declarada do consumo intenso e contínuo.
Mais que um modismo, essa prática caracteriza uma atitude consciente, saudável e sustentável. Ao reconhecer o trabalho dos pequenos agricultores e consumir ingredientes locais, tende-se a consumir alimentos mais saudáveis uma vez que o transporte (inadequado) de alimentos por longas distâncias, especialmente frutas, legumes e hortaliças, propende a ocasionar a perda de nutrientes e de qualidade. Com menos tempo de transporte, também é possível reduzir o quantitativo de embalagens e, consequentemente o volume de lixo gerado nas operações.
Assim, além de promover uma alimentação mais saudável e diminuir os impactos ao meio ambiente, o uso de ingredientes locais estimula e fortalece cultura do desenvolvimento da economia local. Ou seja, valores gerados são investidos na própria comunidade, proporcionando melhorias na qualidade de vida das famílias.
Nos grandes centros urbanos, a filosofia do locavorismo é desafiada e por isso vai além da definição acima citada. É possível identificar diversas iniciativas desenvolvidas para aproximar produtores e consumidores em feiras locais mas, além disso, há grupos que incentivam a produção do próprio alimento, hortas urbanas comunitárias e clubes de assinatura (mas, isso é pauta para outro texto).
Na região do Vale do Taquari, caracterizada em sua essência pela produção e pelo processamento de alimentos, pode-se dizer que somos privilegiados. E de fato, somos. A diversidade de alimentos produzidos (e processados) e a proximidade entre municípios oportuniza aos consumidores conhecer a origem dos alimentos in loco, nas propriedades, promovendo a aproximação entre os atores (produtores e consumidores), fortalecendo as redes de contato e estimulando relações de confiança.
Nesse cenário, estão inseridas as agroindústrias familiares. Estruturados para produzirem a própria matéria-prima (ou em raras exceções, adquirir de produtores locais), os produtores detêm o controle do processo produtivo, o que permite trabalhar em prol da qualidade do produto final ao longo de todas as fases. Sabe-se que para ter um produto final de qualidade é preciso iniciar o processo produtivo com matérias-primas de qualidade. É impossível melhorar a qualidade de uma matéria prima que não possui qualidade. Nesse caso, o resultado final tende a ser trágico.
Outra característica marcante das agroindústrias familiares é o processamento artesanal, com ingredientes naturais. Essa prática confere características ímpares aos produtos e por utilizarem ingredientes locais e naturais, as agroindústrias familiares utilizam as receitas e o saber fazer das famílias, mexendo com as memórias de um passado recente que remetem à infância no meio rural e às ligações com a origem na “colônia”.
Ao consumir ingredientes locais você contribui para a manutenção das famílias no meio rural, para a preservação da paisagem e promove a manutenção das tradições culturais e alimentares, características da região. Consequentemente, você contribui para a produção de alimentos de qualidade e próximos da sua casa. Então, você já sabe, priorize a escolha de alimentos locais!
Vanessa C.B. Daltoé
Gestora | APL – AF Vale do Taquari