Com a voz tranquila e simpática, a assistente social Ana Paula Ely se aproxima de João (*), 37 anos, sentado à soleira de um estabelecimento na Avenida Beira-Rio. São 20h26min de uma quinta-feira de julho, noite fria do inverno gaúcho. Ela o conhece pelo nome, sabe que vem de uma cidade vizinha e que se encontra em situação de rua. A conversa faz parte das abordagens que o grupo da Secretaria Municipal do Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sthas) faz para tentar convencer os moradores de rua do município a passarem a noite no abrigo São Chico, com quem a Prefeitura de Lajeado tem convênio.
– Nem sempre é fácil convencer essas pessoas a irem para um abrigo. São pessoas que se acostumaram à rua e a viver sem regras. É preciso muito tato para conversar e mostrar as vantagens de passar a noite em um abrigo – explica Ana Paula.
O dia 20 de julho foi a terceira ronda focada em moradores de rua organizada pela Sthas. Desde maio, pelo menos uma vez a cada mês, Ana Paula, o secretário titular da pasta, Lorival Silveira, e a assistente social, Céci Maria Rodrigues Gerlach, se reúnem à noite e percorrem os principais pontos da cidade onde se sabe que há moradores de rua. Naquela noite, conversaram com pessoas que estavam dormindo em uma parada de ônibus na Rua João Abott, procuraram um homem que estaria morando no meio do mato na Rua Beira Rio e não localizaram, e abordaram um casal que fez do jardim do antigo INSS, na Benjamin Constant, sua nova casa.
Este tipo de trabalho tem gerado resultados. Desde maio, o grupo já conseguiu levar 5 pessoas para o abrigo. Nesta terceira ronda foram abordados 8 moradores de rua, sendo que dois aceitaram receber o atendimento no São Chico.
Pedro (*) foi abordado na segunda ronda realizada na cidade. Ele vivia na rua e dormia em um banco próximo à Rua Beira Rio. O morador de rua aceitou ajuda e foi direcionado ao Abrigo São Chico, onde ficou por aproximadamente três semanas. Hoje, ele se sustenta com o seguro-desemprego que recebe.
Desde março, o Abrigo São Chico centraliza o atendimento da população de rua de Lajeado por meio de um convênio com a prefeitura. São 44 vagas, sendo 2 para mulheres. O atendimento ocorre 24 horas por dia, durante todos os dias da semana. Eles podem ser acolhidos a qualquer momento do dia e conta com assistência técnica, incluindo assistente social, psicóloga, monitores e cozinheira. Além disso, os moradores também têm deveres na casa: eles são convidados a organizar suas camas durante a manhã, o espaço no armário com seus pertences e a lavar os utensílios que utilizam na alimentação.
(*) O nome dos moradores de rua foram trocados para preservar as suas identidades.
O que diz a lei:
– O morador de rua não está cometendo crime. Por isso, o município não pode obrigar um morador de rua a ir para um abrigo. Ele pode ser convidado e convencido a fazê-lo
– Em casos específicos, quando há risco de saúde (casos de usuários de drogas ou alcoolistas), é possível ao município solicitar na Justiça a internação compulsória, mas casos como estes são exceções
Para fazer contato:
– Pelo telefone 3982-1240 a comunidade pode informar a Sthas sobre a existência de moradores de rua para que a secretaria faça a abordagem.
– A comunidade também pode indicar diretamente o abrigo para os moradores de rua. O abrigo funciona na Rua 15 de Dezembro, 403, Florestal, telefone 3726-3665.
Texto: Ascom Lajeado