Uma empresa terceirizada, contratada pelo Município começou a trabalhar nos fundos da empresa Atlas, no bairro Imigrante, em Bom Retiro do Sul. Em 2016, a loteadora responsável pelo investimento iniciou avultosos investimentos na área que, segundo projeção inicial, deveria estar com diversos lotes prontos para venda. Para que fosse possível o desenvolvimento do projeto dentro do tempo previsto, era necessário que ser feito um encanamento central com canos de 1,5 metros de diâmetro para escoamento das águas pluviais do bairro São Francisco.
No mesmo ano foi acordado entre a Prefeitura Municipal e a Empresa responsável pelo loteamento, que a compra dos canos seria feita pela loteadora e a execução da obra ficaria a cargo do poder público. Por motivo que até então se desconhece, ao contrário daquilo que era esperado, foram comprados canos de apenas 1 metro de diâmetro, insuficientes para dar vasão a água da chuva.
Um erro que parece irrelevante, trouxe drásticas consequências para a comunidade e poderia ter sido ainda pior. Por conta desta falha não foram resolvidos os problemas de alagamento no bairro que, pelo contrário, aumentaram. A primeira vez que houve grandes volumes de chuva após a obra pronta, a área adjacente voltou a inundar e na parte final do encanamento, que está em terras pertencentes à Empresa Atlas do Brasil, os canos foram arrastados pela força da água.
As sucessões de erros anteriores foram responsáveis por atrasar a obra no loteamento, por gerar dois processos judiciais, por piorar os alagamentos no bairro e danificar parte da área de terras pertencente a empresa Atlas.
Em virtude de toda a situação criada, o Ministério Público tem cobrado da Prefeitura que ela refaça todo o trabalho com canos de diâmetro adequado. Os prejuízos causados não param por aí: só em canos, para a primeira parte da obra, a prefeitura irá despender mais de R$ 280.000, além de ser obrigada a contratar uma empresa para executar a obra que provavelmente sairá por bem mais do que isso.
O Prefeito Municipal, Edmilson Busatto, lamenta o desperdício de dinheiro público. ‘’A prefeitura não dispõe de recursos próprios para bancar todo o custo da obra e, portanto, ela será feita aos poucos. Infelizmente os trabalhos do ano passado foram insuficientes, não resolveu o problema dos moradores do bairro e o dinheiro público, foi jogado fora. E agora para consertar teremos um alto investimento, é lamentável que tenhamos que enterrar todo esse dinheiro, pois acredito que teremos um custo total de mais de meio milhão de reais, que poderia estar sendo revertido em inúmeros benefícios para a população”, citou Busatto.
Um conjunto de casas de um mesmo terreno é o primeiro ser atingido em dias de alagamentos. As três famílias que moram no mesmo espaço se ajudam para levantar os móveis. A trabalhadora Carina de Oliveira, 35, mora desde os 13 anos no bairro e afirmou para a reportagem do Jornal A Hora, de Lajeado, que sempre foi assim. “Nunca deram atenção. Ainda instalaram um cano que não dá conta e quando chove alaga tudo.”
Relata que a primeira casa onde entra água é a do tio, geralmente, de madrugada. Na maioria das vezes, percebe a inundação às 5h, quando acorda para trabalhar. A sequência de enxurradas danificou o piso da pequena área ao lado da casa. As lajes racharam e o terreno cede a cada chuva.
Conforme relata outra moradora do local, Maria Cirlei Cardias, 54, o drama das famílias foi tema de promessas de todos os políticos anteriores que passaram pelo bairro. “No começo era pior. Cansamos de reclamar e, quando dava a enxurrada, chamava o prefeito, mas nunca vinha’’.
Após a instalação da tubulação, em 2016, a comunidade passou a ter problemas ainda mais preocupantes. As casas passaram a ser barreira para a água que desce do bairro vizinho. Servidores das Obras encontraram até uma por¬ta de geladeira, bloqueando a estreita passagem da água.
Texto: Ascom Bom Retiro do Sul