Responsável por apresentar as etapas do Programa e o Plano de Desenvolvimento Agroecológico para o município, o extensionista da Emater/RS-Ascar, Ivan Bonjorno fez ainda um breve histórico da agricultura apresentando dados não apenas sobre a produção de alimentos, mas também sobre a “indústria da morte” e o aumento no número de casos de câncer que, de acordo com o técnico, estão diretamente ligados ao uso de agrotóxicos. “O faturamento da indústria desse tipo de produto foi de US$ 12 bilhões no último ano, somente no Brasil, de acordo com dados de 2014”, enfatizou.
Outros dados, como aqueles que dão conta de que 64% dos alimentos que chegam ao consumidor, hoje, estão contaminados com agrotóxicos também justificam, de acordo com Bonjorno, a existência de um Programa do tipo. “Entre 2007 e 2014 foram registrados mais de 34 mil casos de contaminação por uso de agrotóxicos, no Brasil”, lembra o extensionista. “A boa notícia é a de que com a adoção de práticas que tenham por base o respeito a natureza, o solo e a água e que incentivem os agricultores para uma produção livre de produtos contaminantes, é possível alterar esse cenário”, enfatizou.
A respeito das etapas da política pública, elas envolverão, inicialmente, a mobilização e a organização dos produtores. Após, por meio de atividades individuais e coletivas, pretende-se promover a troca de experiências, qualificando produtores que aderirem ao projeto. A escolha dos produtos a serem cultivados também fará parte do programa. “A intenção”, explica Bonjorno, “é a de envolver toda a cadeia produtiva de alimentos saudáveis, iniciando na preparação do solo, até chegar aos canais de comercialização e aos consumidores, que também serão mobilizados sobre o tema”, ressalta o extensionista.
O prefeito de Santa Clara do Sul Paulo Kohlrausch, também durante a apresentação do Programa, pontuou cinco eixos que balizam a política pública, sendo eles a saúde, a educação, a segurança, a sustentabilidade e a economia. “Depende apenas de nós planejarmos o nosso futuro e isso começa por aquilo que proporcionaremos em termos de alimentação para os nossos jovens e as nossas crianças”, afirmou. Para Kohlrausch, mais qualidade na mesa representa também um meio ambiente saudável, um incremento da receita para os agricultores e o suporte para o desenvolvimento.
Kohlrausch espera que até 2018 o município possa operacionalizar 100% do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) com compras provenientes da agricultura familiar, sendo a maior parte delas de orgânicos. “A expectativa é a de que possamos implantar cerca de 300 hectares de produtos livres de agroquímicos em nosso município”, enfatizou. A primeira etapa da execução do programa ocorre já na próxima sexta-feira (07/07), quando cerca de 30 agricultores participam do módulo inicial do Curso de Produção Ecológica de Alimentos, que ocorre no auditório da Prefeitura.
O evento contou com a presença de diversas autoridades das mais variadas esferas. Representando o secretário de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR) do Governo do Estado, Tarcísio Minetto, o chefe de gabinete Osmar Redin valorizou o fato de o município abraçar um projeto desta envergadura, repleto de desafios, feito por meio da parceria entre diversas entidades, especialmente em um cenário em que a atenção para a produção orgânica ainda é incipiente. “Ainda assim, este tipo de cultivo cresce 25% ao ano, desde 2009, o que mostra uma mudança de consciência no que diz respeito a este assunto e um grande potencial de mercado a ser explorado”, pondera.
Representando o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA), Caio Rocha, o assessor Rubens Oliveira, parabenizou o município pelo pioneirismo, destacando a importância da produção de orgânicos no que diz respeito a operacionalização de políticas públicas nacionais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o já citado Pnae. Também destacou o fato de que a pasta deve lançar, em breve, um Plano Nacional de Agricultura Orgânica, como forma de aumentar o apoio para este modelo de cultivo.
O auditor fiscal federal Agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), José Cleber Dias de Souza, também parabenizou o município pelo ineditismo da ação. “Hoje, a sociedade tem cada vez mais clareza sobre como se deve produzir, cabendo aos entes públicos a aproximação dos agricultores com boas políticas, que agreguem renda e sejam sustentáveis”. Já o chefe geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon, reforçou a importância de um projeto desta envergadura, classificando-o de “ousado”. Em sua fala também valorizou o trabalho da Emater/RS-Ascar, “sempre comprometida em estimular a agricultura familiar”.
O lançamento do programa contou ainda com a presença do assistente técnico estadual em Olericultura da Emater/RS-Ascar, Gervásio Paulus, do gerente regional da Emater/RS-Ascar, Marcelo Brandoli e do vice-prefeito de Santa Clara do Sul, Fabiano Immich, além de secretários, vereadores, empreendedores e representantes de entidades, entre outros. Brandoli lembrou o compromisso do Governo do Estado em apoiar políticas públicas deste tipo. “Ainda assim é importante lembrar que nada disso se constrói sozinho, sendo uma ação como esta a junção de muitas frentes caminhando no mesmo sentido”, afirmou.
Texto: Ascom Emater