A morte do policial civil no RS, em frente à esposa e colega, o ator Fábio Assunção, que ganha as redes sociais aparecendo preso e visivelmente alterado, o avião com 500Kg de cocaína que foi abatido após decolar de uma fazendo arrendada pelo grupo do Ministro da Agricultura, tudo isso, que tivemos a infelicidade de acompanhar só nos últimos dias pela mídia é sem sombra de dúvidas uma catástrofe social. Porém, apesar desse cenário caótico, uma matéria vinculada no programa Bom Dia Brasil, da Rede Globo no dia 28 de junho foi a que mais me comoveu.
Trata-se de um caso no interior de São Paulo, no município Jundiaí, onde um hospital foi construído há 6 meses para o tratamento do câncer infantil. A construção foi custeada por doações e hoje o hospital atende cerca de 500 crianças. Ocorre que uma decisão do SUS que hoje custeia a atividade do hospital, de passar a considerar para o credenciamento ao sistema uma necessidade de no mínimo 60 leitos, sendo que o hospital possui 10, vai inviabilizar o repasse de dinheiro à instituição e o risco que se tem é que o hospital feche após somente 6 meses de abertura.
Ainda mais chocante foi ver a entrevista de um dos pacientes, uma criança em tratamento, no começo de sua vida falar que estava perdendo não só o tratamento, mas também a esperança de viver. E a comoção nesta hora ultrapassa o limite do racional, começa a despertar todo o lado emocional que temos e nos faz refletir com o coração. Como pode, uma decisão política, burocrática, feita por pessoas que sequer imaginam situações particulares de crianças como essas, que estão perdendo a única coisa que não se pode tirar de uma pessoa nesta etapa da vida que é a esperança, causar tamanho sofrimento?
Isso tudo é culpa do Estado, ou melhor, do tamanho do Estado no Brasil. Quando vemos pessoas bradarem por manutenção de empresas públicas, dizendo que elas são patrimônio do brasileiro, que servem para o povo e que a iniciativa privada quer somente riquezas é que temos que parar e pensar nesses exemplos do quanto a burocracia e as decisões políticas públicas prejudicam as pessoas. Não estou inocentando os maus empresários da iniciativa privada. Mas querendo mostrar o quanto o Estado produz também este tipo de gente.
Temos um Estado pesado, onde o funcionalismo público não possui em sua grande maioria um comprometimento com agilidade e servidão, onde a burocracia tem que imperar pela falta de confiabilidade das pessoas que lá estão e onde quem manda não é o povo. O Estado brasileiro é uma máquina obsoleta, sem gestão decente e preparada, que mostra que sua única necessidade é se locupletar com poderosos sem escrúpulos, para arrancar do povo seu sustento e fazer de conta que produz serviços.
É por isso, por falta de esperança, a mesma que aquele menino está sofrendo, que devemos dizer basta ao poder público. Devemos dizer basta ao poder do Estado e da burocracia, devemos dizer basta aos políticos que lá estão e deixaram isso tudo acontecer. Quando pararmos de nos queixar da falta de segurança, dos erros do Fábio Assunção e de acreditar que o país combate as drogas de verdade. A partir do momento que o povo não reeleger mais ninguém que esteja dentro deste círculo, partindo para renovação total em nosso sistema político é que poderemos dizer de peito aberto que as gerações futuras vão poder votar a ter esperança.
Enquanto isso não acontecer e tivermos que trabalhar como trabalhamos para sustentar os parasitas de Brasília que determinam este tipo de decisão absurda como no caso do hospital de Jundiaí teremos só a nos lamentar e entristecer pois somos cúmplices do maior crime que uma sociedade pode cometer: a morte da esperança das futuras gerações.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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