

Esta semana a política brasileira está nos presenteando com mais cenas paradoxais. Mais uma situação inusitada, que poderia figurar no surrealismo, acontece no cenário político sem que possamos entender direito como isso pode acontecer. Me refiro ao julgamento no TSE, da chapa Dilma –Temer que venceu as eleições em 2014, aqueles que ainda não acabaram.
Vejamos o caso. O PSDB, então partido derrotado na eleição daquele ano, entrou com denúncia de crime eleitoral por abuso de poder nas eleições por parte da chapa encabeçada pelo PT. Sucintamente, alegavam os derrotados que por estar com a máquina na mão, os candidatos Dilma e Temer teriam feito chantagem eleitoral com a população em troca de voto.
Todos sabemos que o cenário mudou, o jogo virou e a situação hoje é de que o PSDB, após a queda de Dilma e a ascensão de seu vice, e algoz, Michel Temer, está na base do governo. Além disso, a chapa, encabeçada pelo PT, mas com o atual presidente como parceiro, está sendo julgada como um todo. Com isso, o antes adversário mas hoje aliado PSDB está sendo ao mesmo tempo o responsável pela iminente condenação e queda do seu atual parceiro.
O que pode parecer loucura aos olhos de outras democracias, é encarado com quase naturalidade pelo povo brasileiro que na realidade, alienado, não sabe sequer o que está acontecendo. A situação é tão incoerente que agora os adversários na época do impeachment estão juridicamente trabalhando juntos. Um para evitar a cassação do presidente e outro para que a ex-presidente não perca seus direitos políticos por certo período.
Enquanto isso, o PSDB, que agora não tem chance de assumir, encontra-se com seu então candidato, Aécio Neves, sob suspensão do mandato por estar sob suspeita de crimes de corrupção. É, para quem ainda acha que o sistema político brasileiro não precisa de amadurecimento, os fatos de 2013 até hoje nos mostram que sequer saímos da maternidade.
E o pior ainda poderá vir. Aventureiros, radicais, populistas, inúmeros perfis perversos para a construção de um país diferente e sério politicamente falando, tem um terreno fértil diante desse tipo de situação. As eleições do ano que vem prometem um mar de ilusionistas do povo. E o povo, muito despreparado, sem esperança, é presa fácil na estratégia desses lobos.
As leis, a burocracia e as negociatas em troca de poder, claramente buscando manter o patrimonialismo histórico brasileiro, nos remetem aos melhores contos de ficção que poderíamos ter. Com a diferença de que tudo está acontecendo de verdade e as vítimas, que somos nós, estão atônitas, incautas diante da safadeza paradoxal da política brasileira. Pobre nação!
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
Contato: cc.consultoria33@gmail.com