É comum ouvir debates e manchetes que destacam o papel do Agronegócio na economia brasileira, como também, o Agronegócio é responsável pelo aumento no uso de agrotóxicos no Brasil, e muitos outros assuntos que utilizam o termo Agronegócio. Mas afinal, o que é Agronegócio?
Agronegócio é um CONCEITO e foi apresentado pela primeira vez em 1957 por Davis e Goldberg. É compreendido como sendo o conjunto de todas as atividades de produção, processamento, distribuição e comercialização dos produtos agropecuários. Não se limita apenas à produção primária, engloba também as atividades desenvolvidas pelos fornecedores de insumos e sementes, equipamentos, serviços, beneficiamento de produtos, industrialização e comercialização da produção agropecuária.
Em suma, o conceito de Agronegócio propõe uma visão sistêmica sobre todas as etapas da produção agropecuária, por exemplo: desde a preparação do solo para o recebimento da semente, contemplando o plantio, a transformação em subproduto, a distribuição e a comercialização até o consumidor final. É um termo amplo e envolve diversas disciplinas e profissionais.
Estão dentro do conceito de Agronegócio: fornecedores de insumos, fabricantes de máquinas rurais, fornecedores de adubos, sementes, equipamentos; produtores rurais, detentores de pequenas, médias ou grandes propriedades onde há a produção rural; processamento, distribuição e comercialização, frigoríficos, distribuidoras de alimentos, indústrias, supermercados, entre outros.
Esse é o conceito, no entanto é possível observar que na maioria dos casos o termo Agronegócio é usado com um viés político, e em muitos casos é destacado como “inimigo” da Agricultura Familiar. Observa-se assim uma polaridade: Agronegócio versus Agricultura Familiar, dando a impressão de que cada um de nós precisa se posicionar, se é favor de um automaticamente é contra o outro.
Alguns autores como José Eli da Veiga e Ricardo Abramovay já escreveram a respeito desse debate polarizado, afirmando que o Agronegócio não é só uma atividade de grandes produtores e que não há oposição com a Agricultura Familiar. Ao contrário, é a Agricultura Familiar que sustenta um dos ramos mais bem sucedidos do Agronegócio, o das exportações de frangos. A competitividade dessa cadeia produtiva é em grande parte oriunda do trabalho da Agricultura Familiar.
Logo, do ponto de vista CONCEITUAL, Agronegócio não é oposição à Agricultura Familiar, ao contrário, principalmente se observarmos o Vale do Taquari onde a Agricultura Familiar se encontra inserida nas cadeias produtivas mais promissoras do Agronegócio.
Mas então, a quem se referem os discursos que apontam o Agronegócio como responsável pela desigualdade social, pelo aumento no uso desenfreado de agrotóxicos, entre outras acusações? Em geral estão se referindo a grandes empresas e oligopólios que atuam dentro do Agronegócio, bem como ao modelo de produção agropecuária patronal…
Enfim, o fato é que hoje o termo Agronegócio tomou um viés político e deixou de lado a cientificidade do seu conceito. Inclusive para muitos, o fato de um texto mencionar Agricultura Familiar e Agronegócio juntos é uma afronta. Superada essa (dicotomia) ideia de que Agronegócio e Agricultura Familiar são dois pontos opostos e isolados, surge a questão: Agronegócio é Desenvolvimento Rural?
Bem, aí a discussão é muito mais ampla e complexa, mas pode-se adiantar que enquanto Agronegócio é um conceito que aborda as etapas relacionadas à produção agropecuária, o conceito de Desenvolvimento Rural vai muito além, perpassa o campo produtivo e busca contemplar novas temáticas em seu debate, entre as quais se pode destacar: questões ambientais e de gênero, empreendedorismo e inovação, o papel das instituições e das redes agro alimentares, a pluriatividade, entre outras. Assim, ter um alto PIB no Agronegócio não implica necessariamente em Desenvolvimento Rural.
Cândida Zanetti – Bacharel em Desenvolvimento Rural e Gestão Agroindustrial (UERGS) e Mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS). Atualmente Assessora Territorial de Inclusão Produtiva do CODETER VT.