

Fruta de aparência exótica e de sabor adocicado, a pitaia ainda é uma novidade entre os produtores do Vale do Taquari, sendo possível contar nos dedos os que se arriscam a investir no cultivo. Entre estes está a dupla de amigos Rudimar Bertinato e Adelir Gregio, da localidade de Linha Alegre, em Muçum. Produtores do fruto há dois anos, possuem um pomar com mil pés das variedades branca, vermelha, roxa e amarela que, na primeira e única safra até o momento, rendeu cerca de 600 quilos da fruta, que é comercializada a uma média de R$ 10, o quilo.
A ideia de investir na produção de pitaia surgiu quando ambos estavam em viagem e viram a fruta, com alto valor de mercado, exposta em uma fruteira de Santa Catarina. “Não sabíamos nada sobre o cultivo, mas fomos para a internet pesquisar”, explica Adelir, lembrando o fato de terem adquirido, inicialmente, duas mudas que, juntas, deram mais de 60 frutos. “Assim percebemos que este poderia ser um bom investimento, ainda mais com o aumento da demanda e pela curiosidade despertada pela fruta”, ressalta. Na época, o técnico agrícola da Emater/RS-Ascar local realizou a interpretação da análise de solo e recomendação de calagem e adubação para o cultivo.
Justamente por ser uma espécie de “excêntrica novidade”, o assistente técnico regional em Sistema de Produção Vegetal da Emater/RS-Ascar, Derli Bonine, costuma refrear os ânimos quando o assunto é o cultivo. “É preciso, antes de tudo, realizar um estudo para ver se as variedades escolhidas se adaptarão ao clima local, se haverá demanda ou colocação no mercado, entre outros aspectos”, observa Bonine. Dificilmente a Emater/RS-Ascar incentivará os produtores a investir em algo que não possa resultar em retorno. “Assim, o que se faz é atender demandas, de preferência que não comprometam renda para os produtores”, explica.
Isto se deve ao fato de a fruta ser comercializada, no mercado, a valores muito altos, que chegam próximos, e até ultrapassam, os R$ 50. “Com este preço, muitas pessoas compram pela curiosidade”, lembra Bonine. “Mas serão poucas as pessoas que incorporarão o fruto as suas rotinas alimentares, justamente pelo seu alto preço”, enfatiza o técnico. Para comparar, ele costuma lembrar o caso do mirtilo, que há pouco tempo atrás representou uma espécie de “febre”. “Febre esta que se torna passageira, com pouco retorno para os produtores, em meio aos investimentos feitos”, pondera.
Ainda assim, Adelir e Rudimar estão empolgados com o cultivo e já projetam um investimento para triplicar o pomar. Adelir comenta que a demanda pelo fruto é tão alta que, se tivesse 50 toneladas de produção por ano, teria mercado. As facilidades de cultivo e de manejo – inclusive agroecológico – podem ser um atrativo, especialmente em locais mais secos e com alta umidade do ar, como é o caso da localidade em que moram, junto à encosta do Rio Taquari. “Dificuldades mesmo, só em relação à polinização, que ocorre à noite e, em locais com poucos insetos e pequenos animais polinizadores, deve ser feita manualmente”, explica o produtor.
Como forma de poder atender e orientar os produtores interessados no cultivo, a Emater/RS-Ascar tem realizado capacitações sobre o assunto. Nesta semana, um grupo de técnicos esteve na propriedade de Rudimar e Adelir para escutar sobre a sua experiência na produção do fruto. Bonine reitera a importância de não se pautar pela “empolgação”, quando o assunto é a pitaia. “Sim, é um fruto de sabor agradável e que parece ter muitos benefícios”, salienta. “Mas nunca é demais lembrar que o investimento inicial, com postes tutores de concreto, mais as mudas, pode chegar próximo dos 100 mil reais, dependendo a área que se pretende implantar”, finaliza.
Texto: Ascom Emater