Na semana em que uma multidão se reuniu em Curitiba por duas razões distintas e defendendo “ídolos” dos dois lados, questiono: a ordem social está ameaçada com a Lava-jato? Pode ser que a operação que está fazendo história no Brasil seja sim a causadora de inúmeras perturbações e movimentos na sociedade. Mas a maior consequência que podemos ver desta operação da justiça brasileira é exatamente o temor dos bandidos do colarinho branco com as práticas que até então poderiam passar despercebidas perante a lei e a sociedade. A maior herança que podemos ter disso tudo que estamos vivenciando é a mudança da cultura do povo em relação aos seus políticos.
A história brasileira já nos deu exemplos demais de que a idolatria aos homens públicos só nos faz mal mas mesmo assim não conseguimos nos desvencilhar desta prática. O distanciamento dessas figuras em relação ao povo é tão grande que, mesmo sendo forjados na pobreza, no sofrimento e no meio da massa, muitos políticos que chegam ao poder mudam seus costumes e esquecem de suas raízes.
A “mosca azul”, que Machado de Assis perpetuou em seu poema, é o maior relato fictício, ou nem tanto, de como o poder pode corromper e iludir pessoas. Líderes que, mesmo tendo origens distintas e longe da riqueza, quando acabam entrando na vida pública em busca de ideais coletivos, ao se depararem com as facilidades que existem na vida política afloram suas vaidades e passam a esquecer até mesmo do porquê entraram nesta atividade e quem é que estão defendendo.
Semana passada, em conversa sobre a rotina de um deputado estadual, fiquei surpreso quando meu interlocutor, pessoa informada e conhecedora da realidade da classe política, me disse entender que “eles não tem vida”. Questionei o que a pessoa queria afirmar com esta frase e recebi a resposta: “ah, eles vivem na estrada, não tem descanso, precisam viver longe da família, sem horário para nada…”. Foi aí que eu entendi como a maioria das pessoas caem na falácia dos nossos representantes. E na mesma hora retruquei, questionando o seguinte: “Tu achas mesmo que bater papo todos os dias (e o dia todo), conseguir ajudar as pessoas (às vezes), comer e beber de graça, dormir em bons hotéis, ter uma equipe de apoio e sentar no carro sem se preocupar com a tensão do trânsito e ser bajulado diariamente seja realmente desgastante como eles falam?
Vejam que não entrei no mérito financeiro, pois se fosse indagar sobre os ganhos nababescos que eles possuem, seria covardia. Obviamente a pessoa refletiu, voltou ao seu centro e concordou que a mosca azul não tem como não picar os que entram nessa “ilha da fantasia”. É muita facilidade, é muita adulação e muito bom também poder se sentir importante na vida de alguém. Quem não gosta e ainda por cima ganhando para isso? Pois meus amigos, esta é a realidade diária dos políticos brasileiros. Óbvio que de vez em quando aparece a necessidade de trabalhar, tomar alguma decisão, entrar em reunião séria e ter que gastar algum dinheiro do seu próprio bolso.
E foi nesta história, aliada aos episódios da operação que mexe com a nação que pensei, será que a Lava-jato matará as moscas azuis?
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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