![Vanessa Daltoé (Foto: Diuvlgação)](https://regiaodosvales.com.br/wp-content/uploads/2023/01/14996502_1331253910240596_1756392727_n-340x300-1.jpg)
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O desenvolvimento econômico ocorre de forma desigual e de modo distinto, em diferentes regiões, em função das variáveis existentes como, por exemplo, estruturas produtivas e disponibilidades de recursos. No século XIX o Vale do Taquari recebeu os imigrantes alemães e italianos, que povoaram a região e a trajetória destes imigrantes foi eleita como elemento central das representações históricas regionais e o passado colonial marca, com intensidade, a cultura local.
Os imigrantes europeus, especialmente os italianos, exerceram papel fundamental no desenvolvimento e na estruturação da agricultura regional: predomínio de pequenas propriedades, com mão-de-obra familiar e voltada à diversificação de culturas. Desde que chegaram ao Vale os imigrantes italianos mantiveram o contato com a natureza, produzindo seus cultivos oriundos do reino da Itália, instalaram-se em áreas de maior altitude, com relevo acidentado e organizaram-se em pequenas propriedades, intensificando a produção agrícola e a produção de excedentes, possibilitando assim o acúmulo de capital e o investimento em novos empreendimentos comerciais e industriais.
Os imigrantes italianos e seus descendentes preservam até os dias atuais aspectos importantes da cultura de seus antepassados como, por exemplo, o dialeto, a religião, hábitos alimentares e o modo de vida. Para os italianos e seus descendentes a alimentação é de suma importância e não se resume, exclusivamente ao ato de cozinhar os alimentos. “Quando se fala de alimentos e agricultura, é especialmente dádiva o trabalho, o esforço e o saber fazer de quem plantou, colheu ou preparou” o alimento³.
A valorização das origens agrícolas e dos vínculos com o meio rural constituem uma oportunidade importante para a valorização territorial dos produtos. Em muitos locais, a produção e a comercialização de produtos tradicionais tem contribuído para a (re) valorização da condição dos agricultores e, principalmente, para a manutenção das famílias no meio rural¹.
Observa-se um aumento da demanda por produtos oriundos da agricultura familiar, usualmente definidos por consumidores de áreas urbanas como “produtos da colônia”. Entende-se por “produtos coloniais” um conjunto de produtos processados, tradicionalmente, na propriedade agrícola pelos agricultores, ou seja, os “colonos”. Essa produção é voltada especialmente para o autoconsumo familiar, sendo produtos como, por exemplo, salames, queijos, doces e geleias, conservas de hortaliças, massas e biscoitos, açúcar mascavo, sucos e vinho e outros. Embora a contextualização de produto colonial ainda esteja em construção, a imagem destes está relacionada aos imigrantes europeus e aos seus descendentes, sobretudo os de origem italiana e alemã².
Quando se fala em qualidade de produtos coloniais a discussão remete principalmente a aspectos culturais, vinculados à cultura dos povos e à origem dos produtos. Assim, esses produtos são procurados pelos consumidores principalmente por atenderem a qualidades que superam os critérios normativos – recentemente estabelecidos se comparados à tradição e cultura¹. Goodman (2003) apud Cruz & Schneider (2010) aponta para uma virada no conceito de qualidade ou quality turn: movimento associados às cadeias agroalimentares alternativas que funcionam às margens do modelo tradicional de produção de alimentos em grande escala. Nesse contexto, renova-se o interesse pelo local, criando novos espaços econômicos capazes de resistir às forças da globalização promovendo o desenvolvimento rural através da valorização do espaço e da cultura.
A memória de um grupo torna-se responsável pela manutenção de uma identidade. Nesse contexto, a manutenção da memória dos imigrantes é de suma importância para a perpetuação do saber fazer entre os seus descendentes. Deste modo, torna-se necessário analisarmos, compreendermos e valorizarmos o trabalho dos “pequenos” agricultores familiares que carregam parte da história do Vale do Taquari e, que tanto têm contribuído ao longo do tempo para o desenvolvimento local.
REFERÊNCIAS
1CRUZ, F. T., SCHNEIDER, S. Qualidade dos alimentos, escalas de produção e valorização de produtos tradicionais. Rev.Bras.deAgroecologia.5(2):22-38, 2010.
2DORIGON, C. O mercado informal dos produtos coloniais da região do oeste de Santa Catarina. V ENEC – Encontro Nacional de Estudos do Consumo. I Encontro Luso-Brasileiro de Estudos do Consumo Tendências e ideologias do consumo no mundo contemporâneo. Rio de Janeiro/RJ, set. 2010.
3MARQUES, F. C., et al. Circulação de alimentos: dádiva, sociabilidade e identidade. In: MENASCHE, R. Agricultura familiar à mesa: saberes e práticas da alimentação no Vale do Taquari. Porto Alegre: UFRGS, 2007.
4NICOLINI, C. “Entre vales e montanhas…”: análise das representações históricas dos imigrantes e a construção da identidade regional no Vale do Taquari. ANPUH XXIV: Simpósio Nacional de História. São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007.
5SIDELAR, F. C. W., SILVA, G. R. da, BARDEN, J.E. Análise da dinâmica da estrutura produtiva do COREDE do Vale do Taquari no período de 1985 a 2014. Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento – PPGAD/UNIVATES. Lajeado, 2016.
6TROMBINI, J. A história ambiental dos imigrantes italianos e seus descendentes na microrregião oeste do Vale do Taquari/RS. XIII Encontro Nacional de História Oral. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mai. 2016.
Vanessa C.B. Daltoé
Gestora | APL – AF Vale do Taquari