Está cada vez mais escancarada a cara de pau dos nossos políticos. Agora a tentativa da vez para blindar muitos do que estão sendo acusados em operações policiais é a reforma política que tenta instituir o voto em lista. Numa clara manobra paternalista, nossos “representantes” tratam de montar instrumentos que, com o maldito foro privilegiado, possam assegurar a impunidade de colegas inescrupulosos.
É evidente a falta de caráter na irrelevância que esses senhores dão ao povo sem a mínima vergonha na cara. A população, feito boi indo pro abate, sem qualquer reação, assiste aos trâmites sendo feitos e nada pode fazer pois afinal, o sistema foi montado exatamente para que não pudéssemos alterar nenhuma rota das estrelas do planalto brasileiro. Um problema cultural e estrutural, que poderá ser um dia alterado se houver uma quebra institucional grande, mas que nessa quebra haja vontade benéfica ao povo.
Estou convicto diante de manobras que o Congresso e o Executivo tiveram após os escândalos da carne na última semana, que a propagação destes serviram somente para que a grande imprensa, comprada com os milhões das verbas publicitárias, trocasse o enfoque da discussão e o Congresso pudesse agir na espreita, como sempre quando lhe convém o faz. O problema é que tais manobras são comuns e nos acompanham desde sempre na história brasileira.
Tenho um palpite até de certa forma ingênuo. Mudaríamos alguma coisa só se, em uma possibilidade de ainda termos o voto personalizado em 2018, pudéssemos ser brindados com candidatos que mostrassem maturidade, conhecimento e técnica sem nunca terem tido vínculo com o setor público. Se o eleitor entendesse que, mesmo os bons (há poucos, mas há) pagando pelos maus, a melhor coisa seria jamais reeleger qualquer um que lá esteja, esteve ou tenha qualquer ligação com a política tradicional para que oxigenássemos nosso poder central. Quem dera pudéssemos, de maneira ordeira e dentro dos limites legais, ter a consciência de não colocarmos nos cargos públicos nenhum destes que aí estão, fazendo uma limpa completa, com novas cabeças pensantes e novos perfis.
Obviamente estou fazendo uma viagem utópica ao impossível, ao que jamais vai acontecer. Primeiro porque os caciques estão se ajeitando para livrar a cara, segundo porque não existem pessoas suficientes com espírito público e capacidade para serem os candidatos substitutos e terceiro, e mais grave, porque o povo nunca saberia discernir estas pessoas entre os que lá estão pois nossa “mentalidade de boi no abate” não nos permite tal evolução intelectual.
Seguimos assim, aguentando as manobras traiçoeiras dos nossos nobres governantes e representantes tentando viver num país onde a população acostumou-se a ser preterida e não se mexe para mudar absolutamente nada pois é do seu costume agir assim, esperando que as coisas se ajeitem, e elas se ajeitam, mas para poucos.
Uma boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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