

Se pararmos para pensar, no fundo é ambíguo o sentimento que temos, ou deveríamos ter, em relação as prisões de políticos e figurões poderosos no Brasil. De um lado, temos todos os motivos para festejar, uma vez que nossa história mostra que os poderosos sempre pareceram imunes à justiça e agora estão pagando como deveriam pagar. Porém, por outro lado, quanto mais se mexe na teia da corrupção, mais coisas aparecem e vemos que é repudiante a ação desses larápios no poder público, o que causa uma profunda tristeza e desânimo ao nosso povo.
A política sempre teve razões e morais distintas da sociedade já que a busca pelo poder é o que norteia a atividade. Os atores, sempre mostrando-se preocupados com a permanência no topo da pirâmide social, muitas vezes se usam de artifícios escusos para tal finalidade. Mas temos no Brasil, além da busca desse poder, algo pior, o patrimonialismo, que é, resumindo em poucas palavras, o uso do bem público em causa e ganho próprio.
Essa herança vem de nossos colonizadores, se é que dá para chamá-los dessa forma, que sempre se utilizaram dos bens e recursos públicos a seu favor pessoal. Os interesses e o conforto de poucas pessoas e classes, sempre foi a característica marcante de nossos governantes. O povo, ou a maior classe social? Que trabalhe para que os poderosos possam usufruir suas mordomias.
Vemos ainda hoje, séculos depois, que esta cultura não mudou em muitas cabeças e práticas. Temos uma casta, grandes empresários, políticos e magistrados, fora da realidade popular, onde as mazelas do dia a dia não são conhecidas e que agem de forma a usurparem o dinheiro público em seu proveito e gozo. Muitos ainda têm a cara de pau de acusarem o povo de omissão ou culpa por esta cultura.
Agora parece que a justiça, ou parte dela, está agindo na recuperação moral e cultural brasileira, um trabalho árduo e obviamente de longo prazo, pois não se muda um costume de séculos em poucos anos. Devemos festejar sim a extirpação dos parasitas da política mas com a condição de que sejam exemplo dessa ação da justiça em nome de um novo país e novos hábitos sociais.
O que entristece, no entanto, é que quanto mais se mexe, mais vemos que o corte é fundo. Os roubos foram tantos e tão grandes, que não temos a mínima noção de quando vamos chegar ao fim das operações, que cada dia descobrem mais furtos ao erário público.
Mas sigamos firmes. A população tem que se manter forte na luta e na vigilância desse tipo de ação para que os exemplos de punições sejam bem utilizados e mostrem ao povo que a conduta séria é a melhor para todos. Como bem diz uma propagando do TSE, o voto foi só o começo, temos que manter sempre a participação e a cobrança. Assim seremos finalmente uma nação.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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