Um estudo da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) identificou que 126 prefeitos gaúchos desistiram da reeleição. Os desistentes representam 36% dos gestores municipais que estão aptos a concorrer ao segundo mandato no pleito de outubro de 2016. O percentual está próximo daquele divulgado pela Federação em abril deste ano. Na ocasião, a entidade informou que um terço dos prefeitos não se candidataria novamente.
De acordo com o presidente da Famurs e prefeito de Arroio do Sal, Luciano Pinto, a crise financeira dos municípios é o principal motivo que afugenta os gestores da reeleição. “A realidade da gestão pública municipal é preocupante. Os prefeitos estão sofrendo com a redução dos repasses estaduais e federais, o aumento das atribuições aos municípios, a interferência da judicialização na gestão pública e o excesso de rigor nos apontamentos dos órgãos de controle”, analisa.
Dos 497 municípios do RS, atualmente 148 são governados por prefeitos reeleitos e que, portanto, não poderão participar mais uma vez da disputa. Entre os 349 gestores aptos à reeleição, 223 disputarão o segundo mandato, conforme a pesquisa da Famurs, com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entre outros fatores alegados pelos prefeitos, está o desencanto com a classe política. “A população está cansada dos escândalos de corrupção, e os políticos acabam sendo todos nivelados por baixo. Pensam que tudo é farinha do mesmo saco, mas não é bem assim”, lamenta Luciano.
Prefeitos de grandes cidades desistem da reeleição
Segunda maior cidade do Estado, Caxias do Sul não vai contar com a participação do atual prefeito Alceu Barbosa Velho no pleito. Ele afirma não ter entrado na disputa por um novo mandato por convicção. “Sou, por princípio, contra a reeleição. A democracia não vive de reeleição. Vive de alternância”, reflete. Em Pelotas, o prefeito Eduardo Leite abdicou da candidatura com o mesmo argumento. “Para manter minha coerência, decidi não concorrer. Nosso sistema político faz com que a reeleição seja um grande problema”, alerta.
Prefeituras médias não contarão com atuais gestores na disputa eleitoral
Prefeitos de municípios de médio porte também optaram pela desistência. Após refletir por dois anos, o prefeito de Santo Ângelo, Valdir Andres, decidiu não entrar na disputa por um novo mandato. Ele aponta a “grave crise financeira que vivem os municípios” como uma das causas da desistência. O aumento da judicialização nas áreas da saúde, assistência social e habitação, que drenam os recursos da prefeitura, foi outro fator que desestimulou o político das Missões.
Realidade financeira de pequenos municípios é trágica
A escassez de recursos para gerir o município também pesou na definição do prefeito de Restinga Sêca, Mauro Schunke, que se retirou da disputa eleitoral deste ano. “A despesa pública é maior do que o recurso que a prefeitura recebe do Estado e da União. Não há mais como administrar o município”, lamenta.
O prefeito de Dom Pedro de Alcântara, Marcio Biasi, desistiu de tentar a reeleição após penar com a falta de recursos. Ele cogita até abandonar a vida pública. “A frustração é total. Diminuiu a arrecadação. Por outro lado, aumentaram os encargos que o município recebeu da União e do Estado”, reclama.
Texto: Ascom Famurs