
Aos 40 dias de funcionamento, a Casa de Acolhida revela um trabalho fundamental, realizado para transformar a vida de moradores de rua. Conforme a coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde (Sesa), psicóloga Josiane Hilgert Bandeira, 80% das pessoas que ocupam o espaço provisoriamente estão em processo de redução de danos. Isso quer dizer que diminuiu significativamente o uso de álcool e outras drogas por parte dos moradores, que agora passam muitos dias sem uso de nenhuma substância. “Os moradores têm consciência do prejuízo que causam a si mesmos, sabem que precisam de tratamento e já visualizam novas possibilidades de vida como emprego e resgate de sua família.”
Atender a parcela desse público que não costuma buscar apoio nos órgãos de atendimento assistenciais e de saúde está sendo possibilitado graças à viabilização da Casa de Acolhida, que vem lhes oferecendo condições mínimas de vida digna, como banho, roupas limpas, alimentação e um local para descansar. Outro propósito do espaço, segundo a psicóloga, foi a redução considerável do movimento de moradores de rua na Praça da Matriz, fato solicitado há muitos anos pelos comerciantes e moradores do entorno.
Anteriormente à Casa de Acolhida, usuário que recaía na droga permanecia nesse estado em média de uma semana antes de voltar ao tratamento, ocasionando deterioração da saúde física e mental. Hoje, complementa Josiane, aqueles que recaem voltam a ser atendimentos em um dia, fazendo assim com que não seja necessária uma internação para desintoxicação, diminuindo o custo do município com vagas.
A Casa de Acolhida saiu do papel de forma emergencial por causa do frio intenso, registrado no início de junho. Na primeira semana de funcionamento, três moradores de rua precisaram ser encaminhados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e para o Hospital Bruno Born (HBB). Ainda, 17 pessoas passaram por desintoxicação ambulatorial, sendo que seis seguirão tratamento de quatro meses no Centro Terapêutico São Francisco, comunidade terapêutica conveniada com o Município. Com a renovação do convênio com o Centro Regional de Tratamento e Recuperação de Alcoolismo (Central), seis moradores, incluindo uma gestante, estão fazendo tratamento.
Os profissionais que acompanham cada caso e trabalham há anos com este público descrevem no mínimo cinco casos que já passaram por inúmeras internações compulsórias, e nunca permaneciam em tratamento. Conforme Josiane, depois da aproximação proporcionada pela Casa de Acolhida, parte do grupo optou pelo tratamento e retomou vínculos familiares há muitos anos rompidos.
A grande participação de pessoas voluntárias, sem vínculo empregatício com o município, foi fundamental. Através do Fórum de Enfrentamento à Drogadição, mais de 60 pessoas têm auxiliado, principalmente com alimentação.
Texto: Ascom Lajeado