O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
Bertolt Brecht”
O texto acima sempre esteve estampado em um quadro na sala da casa de meu falecido avô, Cyro Camargo, ao lado de outro com uma imagem de milhares de trabalhadores que eu não sei dizer bem de onde eram, mas que, se minha memória não me trai, transmite ao leste europeu. Épocas boas em que eu podia, sem entender muito bem aquelas palavras, ter o privilégio de ouvir um homem idealista, com pensamentos de certa forma puritanos defendendo a política como meio de transformar o mundo e fazer o bem coletivo. Minha adolescência e o desconhecimento sobre o que realmente é a política na prática me faziam viajar por aquele mundo onde tudo era construído com luta e uma boa dose de sonhos.
Me lembrei desse episódio de minha vida pois semana passada, em conversa com amigos, tive a surpresa de ouvir de um deles que há vinte anos faz questão de não votar, como forma de protesto, afirmando que não acredita mais em político nenhum e que se dependesse dele ninguém votaria, em suas palavras: “nessa corja que está aí”. Nesse momento tentei argumentar, mostrar que a preocupação é exatamente essa, de que se os bons cidadãos não participarem, não se pronunciarem e tentarem fazer algo diferente, os maus tomarão conta de nossas vidas já que a política afeta diretamente todas as atividades de uma sociedade.
O texto de Brecht resumidamente nos leva a pensar no exemplo acima. Afinal, de que adianta a não participação, mesmo em forma de protesto, se a imensa maioria da população é obrigada a votar em eleições aqui no Brasil? Ainda lhe disse que a omissão é a melhor das opções para que os maus políticos possam cada vez mais exercer e consolidar o uso da política em seu proveito privado pois lhes dá a liberdade necessária para agir sem escrúpulos. E essa não participação é, como disse o texto, a principal causadora das coisas que afetam a vida de todos nós, por menores que sejam.
Como agravante, a não colaboração estimulada gera uma sociedade incapaz de discernir as ações desses maus elementos públicos daquilo que realmente deva ser a política voltada para o bem comum. Escândalos, denúncias e processos vagos contra corruptos e corruptores são sim desestimulantes e nos levam ao descrédito na classe política. Mas as ações da lei de nada adiantarão se nos abstermos de ações básicas de cooperação política. Martin Luther King nos dá uma frase da qual parte utilizei como título deste artigo: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”, ou seja, esse silêncio, esse protesto (ou pretexto) de não votar para punir os larápios da política só causa o efeito contrário à intenção, fortalece-os.
Pense nisso ao bradar para todos, com orgulho, que não gosta e não quer saber de política, pois ao contrário do que possa parecer, com isso só estarás colaborando com o aumento de nossa desgraça social.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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