Semana passada, respondi duas perguntas sobre a lista do fim do mundo divulgada na mídia pelos procuradores e juízes da Lava-jato como se fosse assim mesmo. Sobre qual seria o mundo que estaria acabando com a lista, vimos que é um mundo à parte da realidade que vivemos. A segunda pergunta, sobre se realmente este mundo estaria acabando respondi que não, e hoje justifico.
Pois bem, vimos que o mundo da política em Brasília é uma verdadeira ilha da fantasia, onde o poder é somente conquistado por quem possui dinheiro e a corrupção está incrustada em todos os cantos do capital nacional. Há exceções? Pode ser, mas o que vimos é somente a cabecinha de um alfinete perto do que realmente acontece diariamente nos corredores do poder. As negociatas, os favores, as comissões financeiras em troca de emendas, enfim, tudo aquilo que estamos presenciando, faz parte, infelizmente, da ação política no planalto central brasileiro. E pior, esta praxe espalha-se com ramas por todo o resto do território brasileiro.
E agora outra evidência mais óbvia que, se alguém ainda não sabe, lhes digo. Isso tudo que presenciamos nas delações não é de hoje e muito menos de décadas atrás que acontece no nosso país. Esse comportamento cultural do patrimonialismo existe há séculos, fortalecido, é bem verdade, com a chegada da família imperial no Brasil em meados do século XIX. O ganho particular com o dinheiro e o sérvio público existe para poucas famílias desde as primeiras demarcações de terras em nosso território. Famílias estas que até hoje dão as cartas nos corredores do poder.
Mas esta é só uma das razões do porque não acredito que este “mundo” vai acabar tão cedo, o enraizamento cultural. Uma outra razão do porque eu não crer em uma mudança tão rápida diz respeito à questão penal. A punição é branda, senão vejamos, o Marcelo Odebrecht, delator mor da Lava-jato até aqui, com todo o esquema de fraudes que ele ajudou a manter e até mesmo a aprimorar, levou “somente” 10 anos de pena. E tem mais, estes 10 anos serão divididos em 4 partes de 2 anos e meio cada sendo que a primeira parte é em regime fechado (com selas confortáveis), a segunda parte em regime semi-aberto, a terceira em regime aberto com tornozeleiras e a última em regime aberto.
Se pararmos para pensar, esse tipo de esquema de superfaturamento de serviços e produtos, esse jogo de corrupção escancarada durante décadas por simples ganância e poder, levou milhares (se não milhões) de brasileiros a passar fome, a não ter escola, não possuírem casa e o pior de tudo, à morte. Agora reflitamos, esse tipo de crime merece uma pena muito maior do que esta que o Marcelo teve. Na Coréia do Sul, a ex-presidente, pega em esquema de corrupção, perdeu o mandato, foi cassada e está em julgamento podendo pegar pena de prisão perpétua. Aqui não, o chefe da quadrilha leva um pena branda, garante sua fortuna, não devolve um centavo, tem sua empresa ainda trabalhando com o serviço público e é capaz de receber medalha. Por isso vos digo, o “mundo” da corrupção brasileira não vai acabar tão cedo. Eles conseguiram nos provar que o crime de colarinho branco que mexe com milhões de reais e custa outros milhões de vidas, vale a pena no Brasil.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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