O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2008. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o mercado nacional de venda de agrotóxicos movimenta 936 mil toneladas de produtos, das quais 833 mil toneladas produzidas no país e 246 mil toneladas importadas. Com isso nos últimos dez anos o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93% e o mercado brasileiro 190%.
No Brasil, a avaliação dos resíduos de agrotóxicos em alimentos é realizada pela ANVISA, através do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), que em 2016 divulgou o último relatório das análises realizadas entre 2013 e 2015. Foram avaliados cereais, leguminosas, frutas, hortaliças e raízes, totalizando 25 tipos de alimentos. O critério de escolha foi o fato de que estes itens representam mais de 70% dos alimentos de origem vegetal consumidos pela população brasileira.
Do total das amostras monitoradas, 9.680 amostras (80,3%) foram consideradas satisfatórias, sendo que 5.062 destas amostras (42,0%) não apresentaram resíduos dentre os agrotóxicos pesquisados e 4.618 (38,3%) apresentaram resíduos de agrotóxicos dentro do Limite Máximo de Resíduos (LMR), estabelecido pela ANVISA. Foram consideradas insatisfatórias 2.371amostras (19,7%), sendo que 362 destas amostras (3,00%) apresentaram concentração de resíduos acima do LMR e 2.211(18,3%) apresentaram resíduos de agrotóxicos não autorizados para a cultura.
Pela primeira vez, o risco de intoxicação aguda, que é o risco de ocorrerem problemas de saúde até 24 horas após a ingestão do alimento, foi avaliado pelo programa. Um dado relevante do ponto de vista prático, no entanto, o consumidor deve estar atendo para não analisar esse risco de forma isolada, já que não apresentar risco agudo não significa que o alimento não possa causar problemas à saúde em longo prazo. Um alimento que não apresenta risco de intoxicação aguda pode sim, através de repetidas exposições, resultar em doenças de natureza crônica como câncer, distúrbios endócrinos, distúrbios neurológicos, malformações fetais, entre outros.
Ao comparar os resultados desse relatório com o divulgado em 2012, percebe-se que as irregularidades permanecem preocupantes: o pimentão continua o mais “problemático”, com 89% das amostras irregulares (agrotóxicos acima do limite permitido e/ou proibido para essa cultura). Depois vem a abobrinha, com 78% (em 2012 eram 48%), e a uva, com 75% (em 2012 eram 29%). Já quando se considera apenas a presença de resíduos de agrotóxicos acima do LMR, o morango é o “campeão”, seguido do abacaxi e da uva.
Outro resultado que merece ser destacado é o número de agrotóxicos diferentes presente em um mesmo alimento. Nas amostras de pimentão foram encontrados 88 tipos, nas de abobrinha, 78, e nas de uva, 72. Isso é muito preocupante, porque entre os agrotóxicos encontrados, muitos não são permitidos para o cultivo daquele alimento. E em todos os alimentos foram encontradas essas substâncias não autorizadas. O agrotóxico mais utilizado indevidamente foi o acefato, encontrado em 18 dos 25 alimentos testados. A própria ANVISA afirmou em 2009 que essa substância possui acentuada neurotoxicidade e que há suspeitas de que seja cancerígena, tanto que é proibido em vários países.
Os dados confirmam que o modelo de agricultura brasileiro está cada vez mais dependente dos agrotóxicos e fertilizantes químicos, inclusive com uma na intensificação na aplicação de agrotóxicos na produção alimentar nos últimos anos. Inúmeros riscos a saúde decorrem da ingestão de agrotóxicos em alimentos, portanto é necessário e urgente que nosso país não somente adote medidas para reduzir o uso de agrotóxicos, como também estimule modelos alternativos de produção de alimentos, como a agroecologia e a produção orgânica.
Fontes:
- https://www.abrasco.org.br/dossieagrotoxicos/wp-content/uploads/2013/10/DossieAbrasco_2015_web.pdf
- http://portal.anvisa.gov.br/programa-de-analise-de-registro-de-agrotoxicos-para
Tatiane Turatti
Extensionista Social – Nutricionista
Escritório Municipal da Emater/RS – ASCAR Encantado