Depois de três anos, agora com um novo formato, ele voltou para qualificar o futuro da Cooperativa Languiru. Com o intuito de rever modelos e propor experiências que contribuam para o fortalecimento da propriedade rural, reiniciou no dia 06 de setembro o Programa de Sucessão Familiar Languiru. Em torno de 70 jovens participaram do primeiro encontro que ocorreu na Associação dos Funcionários da Languiru, em Teutônia.
No primeiro dia de aula, divididos em duas turmas (manhã e tarde), os estudantes puderam se conhecer e compartilhar suas expectativas a respeito do programa. O grupo é bastante diversificado, formado tanto por jovens que trabalham integralmente na propriedade rural como por jovens que dividem seu dia entre o setor privado e a propriedade rural. Na mesma ocasião ainda ocorreu a primeira atividade dirigida aos pais, quando foi abordada a importância da participação dos mesmos no processo sucessório.
Empatia
A programação direcionada aos jovens foi conduzida pelos professores Rafael Nicolela e Sandra Heck. Foi um momento de interação, de superar medos e também de algumas boas risadas. Nicolela ressaltou a disposição da cooperativa em estruturar o programa que tem como alvo a formação de novas lideranças. “Vocês vão levar para o resto da vida esta troca de informações. Como produtores, vocês enfrentam o desafio de estarem sozinhos no dia a dia, no entanto, a partir de agora, existe esse desafio de trabalhar em grupo. Isso é muito rico”, contemplou. Sandra observou que as aulas serão um momento de empatia, onde todos poderão conhecer novas técnicas de gestão. “A inovação é uma questão de sobrevivência”, afirmou.
Na primeira dinâmica proposta aos jovens, cada integrante realizou breve relato sobre a sua propriedade rural, revelando o que pensa sobre sucessão familiar, compartilhando fatores que o motivam a seguir no campo e registrando objetivos que pretende ter alcançado ao final do programa. Em outro momento, os estudantes foram separados em grupos para a confecção de cartazes com foco nos principais desafios do agronegócio e atitudes que devem ser tomadas para viabilizar a propriedade rural. Para conduzir esses trabalhos, os professores contaram com o apoio da representante do setor de Relações com o Mercado da Unisinos, Cristina Reichert.
Dicas para os pais encaminharem a sucessão
Simultaneamente à programação direcionada aos jovens, numa sala ao lado os pais também participaram de momento de reflexão. O professor Martin Ricardo Schulz procurou sensibilizar o grupo sobre a importância de capacitar os sucessores na propriedade rural. O consultor enfatizou que o papel do líder é fundamental para concluir a sucessão, citando as vantagens do cooperativismo para o êxito desse processo.
Schulz também analisou o conflito de gerações que existe no campo. Segundo ele, os pais apresentam despreparo na gestão, dificuldade de se atualizar, insegurança sobre o futuro e cansaço. Já os filhos estão confusos no meio de tantas alternativas, apresentam excesso de autoconfiança, uma grande facilidade de adaptação e imenso potencial. “A sucessão deve ser individualizada e profissional, ou seja, a troca da administração deve andar junto com a condução responsável dos negócios. Precisamos ter coragem e confiar em nossos filhos”, salientou.
O professor chamou a atenção dos pais para aspectos que, no seu entender, são preponderantes para que ocorra a sucessão na propriedade rural. Aconselhou planejar uma estratégia que estabeleça diretrizes para curto, médio e longo prazos, que deve acompanhar as pessoas e cada atividade desenvolvida. “Testar diferentes cargos ou posições para os familiares pode atrapalhar muito o andamento do negócio”, alertou. Nesse sentido, destacou que é necessário preparar os herdeiros de acordo com suas afinidades e futura participação no negócio, para que exerçam suas funções com excelência. “Preparar os familiares para assumir novos desafios reduz a possibilidade de que herdeiros inabilitados ou desinteressados com relação aos negócios assumam uma posição estratégica. Genros e noras devem ser convidados a participar desse processo de sucessão. Todos devem falar a mesma língua numa organização e abandonar as questões relacionadas à hierarquia ou à influência familiar”, determinou. Nesse contexto, reforçou a necessidade de excluir da rotina o hábito de resolver questões familiares quando estão sendo discutidos assuntos profissionais. “Problemas empresariais e familiares nunca devem estar em uma mesma conversa”, advertiu, falando também da quebra de padrões culturais comuns no campo: “não faz mais sentido dizer que o produtor tem que estar no campo e não no escritório ou que trabalhar com computador é muito difícil”.
Como forma de interação e troca de informações sobre as propriedades rurais, Schulz coordenou dinâmica em que os pais foram separados em grupos e listaram quesitos que, de uma forma geral, estão ausentes em propriedades onde não existe sucessão, como falta de autoestima, prioridades, planejamento e responsabilidades.
Não há idade para estudar
A primeira aula parece ter agradado a turma. O jovem Micael Alan Müller (15) reside com os pais em Pontes Filho, município de Teutônia. A família vive da produção de leite que vende para a cooperativa. Micael mencionou que seu pai o incentivou a participar do programa, sugestão logo aceita por gostar de lidar com o gado leiteiro. “Estou gostando e interagindo com os colegas. Quero aprender técnicas de gestão para, no futuro, investir com sabedoria em nossa propriedade rural”, argumentou.
Com propriedade em Linha São Pedro do Maratá, município de Maratá, Jacó Henrique Sipp (44) é produtor de leite e líder de Núcleo da Languiru. Resolveu ingressar no programa em função das boas informações que já tinha recebido da edição anterior. “Estou participando para ampliar meus conhecimentos, uma vez que a cada dia novas tecnologias estão inseridas no meio rural”, entende.
Síntese do programa
Esta é a 2ª edição do Programa de Sucessão Familiar Languiru. O primeiro grupo formado participou das atividades entre novembro de 2013 a dezembro de 2015.
Devido à grande procura, a Languiru ampliou o número de vagas para a composição de duas novas turmas, totalizando cerca de 70 inscritos. As aulas ocorrem uma vez por mês, com um grupo reunido no turno da manhã e o outro no turno da tarde, até dezembro de 2019.
Além das aulas teóricas, o cronograma prevê atividades à distância, visitas técnicas às unidades industriais e a propriedades de associados da cooperativa, e viagens técnicas. O conteúdo programático foi construído em conjunto e leva em consideração demandas que surgiram a partir de avaliação da primeira edição do curso, experiências que constroem e contribuem para o aprendizado.
O programa é organizado pela Cooperativa Languiru, com a parceria da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e do Sistema Ocergs-Sescoop/RS.
Texto: Ascom Languiru