Nos dias 10 e 11 de maio ocorre o Workshop sobre Esgotamento Mental e Profissional, na Associação Comercial e Industrial de Encantado – ACI-E. Serão dois dias para aprofundar as próprias práticas de trabalho e avaliar em que ponto é necessário ou é possível propor mudanças.
A atividade será conduzida pelos psicólogos Bianca Kappler e Sinandro Debona. Segundo os profissionais não existem dados oficiais, mas estima-se, por pesquisas autoaplicáveis, que pelo menos 30% dos trabalhadores sofrem com um severo desgaste decorrente do trabalho.
O Portal Região dos Vales conversou com os psicólogos para saber um pouco mais sobre o workshop. Confira na entrevista abaixo:
1) O tema do Workshop é Esgotamento mental e profissional. Expliquem um pouco mais sobre o assunto.
Psicólogos: Atualmente, a maior parte de nós passa grande parte do dia envolvidos com as questões do trabalho (tendo ou não um espaço formal onde trabalhar!). Dispendemos nossa energia para obter resultados e sermos produtivos, participando do desenvolvimento da comunidade e obtendo realização. Como psicólogos, temos percebido que grande parte dos pacientes da clínica de psicologia apresenta condições que são prejudiciais à sua própria saúde e até da família. Por isso, consideramos necessário compreender o contexto, o trabalho é sempre instrumento de análise por interferir diretamente na condição de saúde das pessoas.
O Workshop sobre esgotamento mental e profissional visa traçar estratégias para priorizar a saúde pessoal através de dinâmicas que favoreçam a autorreflexão quanto às rotinas de trabalho. Algumas profissões específicas têm maiores índices de esgotamento, como é o caso dos professores e profissionais da saúde.
Existem alguns fatores que fazem com que o trabalho perca o sentido e cause mal-estar ao trabalhador. Chamamos de gatilhos para a condição de doença quando o trabalhador se vê diante de uma grande demanda de trabalho sem se sentir satisfeito com os resultados, ou quando não sente que há possibilidade de crescimento dentro do ambiente que ocupa. Ainda, é necessário considerar a personalidade de cada pessoa: necessidade de controle ou dificuldade de lidar com equipes são características pouco adaptáveis aos trabalhos contemporâneos, pode ser o pontapé inicial para o sofrimento.
O estado de estresse é esperado em muitas situações da vida. Esgotamento mental é uma condição em que não há mais energia para nenhuma atividade proposta. O termo Burnout é usado para caracterizar a doença em estado avançado e significa “queimar até esgotar o combustível”. Reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como uma doença ocupacional, o Burnout é um estado de tensão emocional e estresse crônico provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes.
2) Como uma pessoa percebe que está com esgotamento mental? Quais são os sintomas?
Psicólogos: É possível reconhecer o esgotamento mental por uma série de sintomas físicos, emocionais e comportamentais que trataremos em maiores detalhes no evento. Mas resumidamente, é quando, sem outras causas, a pessoa se torna menos produtiva, os sintomas se apresentam cada vez mais intensos e existe a sensação de diminuição das possibilidades de bem-estar.
Se torna comum o aumento da frequência de outras doenças crônicas que comumente não relacionamos com as condições de trabalho e geralmente negligenciamos, ou consideramos sustentáveis e compatíveis com o ritmo de trabalho. É comum uma busca não saudável por soluções químicas como o consumo de medicamentos, bebidas alcoólicas ou outras drogas. Por vezes, os sintomas se associam com situações de tensão (período do mês, crise econômica, ferramentas de trabalho…) e nos convencemos de que isso “vai passar”. Quando não passa, outras patologias podem se instalar e agravar a situação. Não raro é possível diagnosticar mais de uma doença em situações de estresse crônico, a mais comum é a depressão.
Podemos diferenciar em físicos, emocionais e comportamentais as manifestações de sintomas de Burnout.
Exemplos:
Físicos: Dores de cabeça (enxaqueca) prolongadas, sudorese sem relação com momentos de calor, insônia ou alterações na rotina de sono, distúrbios gastrointestinais…
Emocionais: alterações repentinas de humor, pessimismo, irritação constante, sensação de valer menos, incapacidade, baixa autoestima…
Comportamentais: isolamento atípico, problemas de concentração e na memória, uso de drogas, bebida alcoólica ou comida como válvula de escape para os problemas, desconfiança com episódios de paranoia.
3) Quais são as consequências disso?
Psicólogos: Ter sintomas e adoecer faz parte da vida. O importante a se considerar é a avaliação dos prejuízos que se têm a partir do desgaste emocional. Podem ocorrer prejuízos financeiros em razão da má organização pessoal, geralmente o consumo e a compra de bens não essenciais têm como razão uma necessidade de aumentar a autoestima. Além disso, fenômenos como não negociar, endividar-se, ou não valorizar o próprio trabalho são comuns.
As relações sofrem uma tensão constante. O apoio familiar é essencial em momentos de adoecimento e é geralmente quando brigamos e agredimos quem está conosco, pela pura necessidade de extravasar sensações ruins. Separações são muito comuns em estado de esgotamento mental. A diminuição da libido causa uma baixa na qualidade das relações sexuais. As empresas que tem cunho familiar podem causar/sofrer danos profundos em todos os aspectos possíveis, danos contínuos e que causam desgaste também para serem resolvidos.
Maiores consequências são pessoalizadas, dependem do estágio da doença, do suporte familiar disponível, dos recursos para buscar atendimento profissional, e das condições de alimentação, sono e lazer que cada pessoa valoriza possuir.
4) O que pode ser feito para evitar?
Psicólogos: É essencial ressaltar que o Burnout não tem relação com o número de horas trabalhadas. É multicausal e tem como principal causa a relação com o trabalho, e não o trabalho em si.
É possível remediar o esgotamento mental extinguindo fatores que causem danos e prejudiquem o funcionamento de cada pessoa. Como empresa, é essencial aprimorar os processos, especialmente de comunicação com o trabalhador a fim de oferecer a melhor condição possível para que o trabalhador se sinta pertencente e valorizado no ambiente de trabalho. É promover condições para que o trabalhador esteja fazendo algo que tem sentido para ele. O trabalho é não apenas sua fonte de renda, mas aonde boa parte de sua vida acontece.
Para o trabalhador, é necessário auto compreensão sobre os fatores comportamentais que resultam em estímulos negativos, bem como aprender a reconhecer as emoções e lidar com elas. Alguns trabalhos exigem determinadas características de um perfil específico de pessoas. Descubra se o seu perfil é compatível com o que o trabalho exige, se não for, talvez valesse a pena desenvolver as habilidades necessárias ou trocar de área. Por exemplo: se você possui um emprego que exige concentração para operar uma máquina e você é uma pessoa muito falante e sociável talvez tenha dificuldades em passar muitas horas nisso. Mas se você é tímido, disciplinado, gosta de controle e previsibilidade pode ter mais facilidade em operar a máquina, mas terá mais dificuldade se estiver na área de vendas e visitação à clientes por exemplo.
O trabalho da Psicologia é identificar o que está disfuncional e apontar estratégias de mudanças, oferecendo suporte para prevenir situações desencadeantes e auxiliar nas condições de doenças. As ferramentas da psicologia buscam favorecer a compreensão e resolução do que é possível e do que é necessário mudar para ter maior qualidade de vida.
5) Vocês têm dados de quantos brasileiros sofrem com isso?
Psicólogos: Não se tem dados oficiais, mas estima-se, por pesquisas autoaplicáveis, que pelo menos 30% dos trabalhadores sofrem com um severo desgaste decorrente do trabalho. Algumas profissões muito mais do que outras, como é o caso de policiais, professores e profissionais da saúde, que estão mais propensos a isso. Dados nacionais ainda são imprecisos por alguns motivos. É difícil selecionar para pesquisa uma amostra que não seja de alguma forma tendenciosa. Mesmo pegando dados da previdência, por exemplo, que seria abrangente suficiente, deve-se considerar a possibilidade de que um jogo de interesses afete o resultado da pesquisa.
Saiba mais:
O workshop é aberto ao público e têm vagas limitadas. Pode participar quem tiver interesse em compreender como tornar as tarefas do trabalho mais satisfatórias e quem tem interesse em amenizar os sintomas do esgotamento mental. A Psicologia pode se tornar uma ferramenta para quem admite que precisa de ajuda por sentir-se inconformado com a vida que leva. O investimento para quem é associado (há mais de seis meses) à ACI-E é de R$ 120, já para os não sócios, o investimento é de R$ 180.
Texto: Elisangela Favaretto/Portal Região dos Vales