Muito se brada ultimamente sobre a pouca moral que a classe política possui no Brasil. Este que vos escreve inclusive, na mesma linha da maioria da população, também enxerga esta como uma das piores “safras” de políticos que este país já teve em sua história. Porém há uma questão que pouca gente procura compreender ou refletir e que ao meu ver é a principal razão deste quadro. Afinal de contas, por que a memória do povo é tão fraca e nossos líderes tão falhos moralmente?
É uma questão complexa com certeza. Algumas linhas de pensamento falam em culpa da população, afirmando que este quadro de líderes que temos hoje é simplesmente o reflexo da população brasileira e por isso nada mais justo do que este mesmo sofrer com suas escolhas. Até bem pouco tempo me inclinava a ter este mesmo pensamento, defendendo que os nossos representantes nada mais eram do que o espelho daquilo que fazemos no cotidiano. Por causa do estigma da Lei de Gérson imposto ao povo brasileiro, de malandro fanfarrão e aproveitador, somos condicionados muitas vezes ao pensamento simplório de que tudo que acontece nos corredores do poder público é culpa do povo.
Porém, se pensarmos de outra forma, por outro ângulo, ou até melhor, de fora da caixa como dizem, temos uma teoria popular que nos diz que o exemplo vem de cima. Ou seja, o comportamento do povo é que seria o reflexo de suas lideranças. Se pararmos para refletir sobre isso, realmente, vivemos em um país onde muito se prega que a população escolhe os maus políticos e é culpada por estar sofrendo com as consequências, mas questiono então: por que os bons políticos não tem força para pará-los e por que os bons exemplos são raros? Respondo: porque o jogo é interessante para todos e poucos ficam sem ganhar algum benefício por fora, os que não querem este jogo pulam fora do barco.
Vendo isso, é óbvio que a população, aquela que sofre com a burocracia, com a demora para receber o serviço público (sem qualidade), com a falta de saúde, de educação, de segurança e demais tarefas públicas, estaria sujeita sim a querer imitar seus grandiosos líderes que vivem na ilha da fantasia do poder e se repoltreiam no dinheiro do povo. É isso, o exemplo deveria vir de cima, a corrupção, o oba-oba, a maracutaia, deveriam ser extintos por quem mais o praticam. Deveríamos ter em nossos líderes aquela figura do pai que sustenta com honra sua família e possui moral para cobrar aquele filho que erra, cobrando-o com bons exemplos.
É disso que o Brasil precisa, de líderes comunitários que não pensem só em aparecer ou ganhar fama, que queiram realmente fazer pelos outros e que mostrem que dá para fazer sem precisar enriquecer com isso. Que a sua maior virtude de nossos governantes seja realmente o altruísmo vendido em campanhas eleitorais. Aliás, e em tempo, precisamos de exemplos vindo de todos os poderes públicos, do executivo, do legislativo e do judiciário. São necessárias pessoas que tenham na moralidade e na decência, virtudes bonitas e dignas de elogio. Chega da Lei de Gérson, precisamos de bons líderes, de pessoas de bem e de exemplos realmente inspiradores ao povo. Gente que mostre que vergonha é passar os demais pares da sociedade para trás.
Mas infelizmente a esperança é pequena, acabo de saber que o relatório sobre a lei do abuso de poder está passando no Senado, ou seja, mais uma vez a classe política nos mostra que com ela tudo há de se dar um jeito para beneficiá-los e livrá-los das garras da lei, inclusive das tentativas de moralização. O mau exemplo continua vindo de cima.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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