Após quase dois anos e meio da última eleição presidencial, o país continua à deriva. Estamos sem rumo, sem curso e sem capitão. Pior ainda, a população permanece inerte e sem reação prática alguma em relação ao governo federal e ao que acontece em Brasília. E tudo isso por um vício cultural típico do brasileiro, que perpetua no poder as mesmas figuras patrimonialistas que tomaram o Estado brasileiro desde seu começo, a mania de esperar pelo salvador da pátria.
É de nossa cultura ainda esperar que o poder central, seja ele de que origem ou forma for, resolva tudo por nós. Aliás, essa é uma artimanha utilizada também pelos que deste poder se utilizam para melhorar seu patrimônio pessoal em épocas eleitorais. Afirmando-se como sendo a resolução de todos os problemas dos brasileiros, com um discurso normalmente populista, é fácil encontrarmos figuras em que o povo invista sua esperança na busca de melhoria de vida.
Ledo engano, enquanto o brasileiro não entender que o verdadeiro poder emana do povo e que aos políticos resta servir a este povo, desenvolvendo políticas públicas que respeitem as necessidades básicas da população sem vínculo clientelista, sendo efetivos nas suas resoluções e principalmente tendo um espírito de servidão pública naquilo que realmente cabe ao Estado. Mas este poder popular também requer dedicação das pessoas. Elas precisam reservar um tempo ao coletivo, frequentar reuniões de bairros, participar de eventos comunitários, exercer sua cidadania junto à fiscalização do poder público e principalmente cobrar essa eficiência de quem está ali para lhes servir.
Assim se faz um Estado forte, com povo forte, que saiba de seus direitos, mas também saiba de seus deveres. Com pessoas que mudem culturalmente o modo com que sejam representadas e não busquem no imediatismo ou nos discursos e promessas populistas eleitorais a resolução particular de seus problemas. É com a participação efetiva e comunitária, com espírito social, que as pessoas poderão efetivamente alterar o quadro que está aí. Dia 26 de março inúmeros municípios brasileiros estão marcando novas manifestações. O teor e o resultado pouco importam nesse momento, o que importa é que algumas pessoas estão dedicando seus tempos para causas coletivas, sem pensar em nomes, partidos ou em suas necessidades pessoais. São pessoas que aos poucos mostram que tudo o que está ocorrendo no país há alguns anos não pode passar incólume por mais uma geração.
Se são manipuladas pela mídia, se são partidárias, se foi golpe ou não, se estão arrependidas de algo ou querem mostram que continuam descontentes com o que estão vendo, isso importa mas não é o mais importante. O que importa mesmo é que estão saindo de casa e entendendo o seu papel verdadeiro na sociedade. a voz das ruas é a mais poderosa de todas, o brasileiro e sua passividade política é que ainda estão descobrindo isso. Afinal nossa jovem democracia ainda está apenas gatinhando.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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