Já faz mais de doze anos que a família Lottermann, do bairro São Bento, em Lajeado, tem o aipim como principal produto da propriedade. Em uma área no local, somada a outras terras arrendadas, o casal Antônio e Rosane cultiva cerca de três hectares da raiz, que rendem mais de 40 toneladas do produto descascado ao ano, que é vendido in natura. Ainda assim, a ideia de sair da informalidade por meio da implantação de uma agroindústria familiar que possibilitasse o alcance de outros mercados, surgiu apenas no final de 2015, com o apoio da Emater/RS-Ascar.
O incentivo inicial, de acordo com a engenheira agrônoma da Emater/RS-Ascar, Andréia Binz, foi a possibilidade de acesso a R$ 10 mil por meio do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper), resultado de um processo de Participação Popular e Cidadã (PPC) que beneficiou dezenas de agroindústrias da região. “Com bônus adimplência de 80% do valor para pagamentos em dia, foi possível a aquisição de uma câmara fria capaz de armazenar 10 toneladas do produto”, explica Andréia.
Ainda assim, Antônio tinha dúvidas em relação ao processo burocrático que poderia levar à consolidação da agroindústria. Mesmo que isso implicasse no recebimento de valores muitos baixos, no mercado informal. “Foram os esclarecimentos a respeito do Programa Estadual de Agroindústria Familiar, que certifica legalmente os empreendimentos nas esferas sanitária, tributária e ambiental, que motivou a família a dar esse passo”, salienta o assistente técnico regional da área de Organização Econômica da Emater/RS-Ascar, Alano Tonin.
Agora, faltando poucos detalhes para a inauguração “oficial”, o casal comemora e já projeta a ampliação de mercados para o futuro. “Hoje não damos conta de atender a demanda”, observa Antônio, que lembra os anos iniciais, quando eram vendidos apenas 400 quilos do produto ao ano. Atualmente, além da venda em pequenos mercados locais, a comercialização direta ou por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) garante, inclusive, melhores preços. “Antes vendíamos o quilo a R$ 1 sendo que hoje, em alguns casos, o valor pode ultrapassar os R$ 4 para o aipim descascado e limpo”, ressalta.
Na agroindústria, tudo é feito em família. Além de Antônio e Rosane, o jovem Bruno, filho do casal de apenas trezes anos, também demonstra interesse para a continuidade do trabalho no campo. “Ele quer fazer o curso Técnico Agrícola”, comemora Rosane, que brinca com o fato de o menino ser exigente em relação à qualidade do produto apresentado. “Quando ele está nos ajudando na agroindústria não hesita em falar pra nós sobre algum aipim mal descascado ou com alguma imperfeição que esteja ‘subindo’”, sorri.
A parceria entre todos – além de Bruno há mais um filho mais novo – também pode ser a chave do sucesso para o empreendimento que, de maneira oficial, recém inicia. “Ambos (o casal) já trabalhamos na cidade, na indústria e em outros locais e hoje podemos dizer que não trocamos o que temos aqui, a qualidade de vida, a proximidade com a família”, destaca Antônio. Não é por acaso que, se houver necessidade de ampliação do negócio ou mesmo para a instalação de uma segunda câmara fria, o espaço já está definido. “É algo para o futuro”, garante Rosane.
Para Tonin, os benefícios da implantação de uma agroindústria são diversos e passam não apenas pela comercialização direta com valor agregado. “Há também a qualidade de vida, o sentimento de ser ‘dono’ de um negócio e, no caso da família Lottermann, a perspectiva de sucessão familiar”, analisa. Não por acaso, a intenção da família Lottermann também é investir, futuramente, em outros cultivos, como o de hortaliças para a produção de compotas. Assim, o trabalho com bovinos de leite – ainda são sete vacas em lactação – deverá ser abandonado no próximo ano.
Adepta da aquisição de conhecimento para a qualificação da atividade, Rosane se orgulha em ser a responsável técnica pela agroindústria familiar, após ter feito o curso de Boas Práticas de Fabricação no Centro de Formação de Agricultores de Fazendo Souza (Cefaz). “O aprendizado e a troca de experiências é parte integrante do processo”, observa Antônio, que não abre mão da conversa com produtores de propriedades do município vizinho de Cruzeiro do Sul, que tem tradição no cultivo o da raiz. “É uma forma de se manter atualizado”, finaliza.
Texto: Ascom Emater