A Univates inicia, a partir de fevereiro de 2017, um trabalho que busca identificar soluções para doenças e pragas que atingem as videiras no Vale do Taquari. O projeto “Manejo de vinhedos: controle biológico e a influência sobre a produção de substâncias bioativas” será executado durante dois anos, com financiamento de R$ 999.946,04 do Banco Mundial, via Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do RS. Serão realizadas análises de campo em uma área de 1,7 mil hectares — que compreende a produção de uva nos municípios de Dois Lajeados, Imigrante, Marques de Souza e Putinga.
O projeto surgiu a partir da demanda identificada na região, pela presença de ácaros e outras pragas que atacam as plantações de uvas e prejudicam a produção de vinhos. Os estudos realizados até hoje objetivaram conhecer as espécies de ácaros associadas ao cultivo de uvas. Esse é o primeiro levantamento no Estado que busca conhecer a relação de resistência dos ácaros fitófagos (que se alimentam de plantas) e predadores diante do uso de fungicidas (pesticidas que inibem a ação de fungos) e as relações ecológicas entre as espécies.
De acordo com o coordenador do estudo, professor Noeli Juarez Ferla, o objetivo é criar estratégias para que os produtores não precisem usar pesticidas nas plantações. A alternativa é encontrar inimigos naturais — como ácaros predadores — que façam o controle biológico. “Para isso, é importante saber, primeiro, quais são os produtos prejudiciais a esses inimigos naturais”, enfatiza.
Cuidados no cultivo da uva
A qualidade do vinho está diretamente relacionada à qualidade das uvas. Pesquisadores ligados ao projeto da Univates entendem que, a partir dele, a região poderá ter acesso a formas de qualificar a sua vitivinicultura sem o uso de pesticidas e, com isso, satisfazer um mercado cada vez mais exigente e carente de produtos feitos de maneira natural.
Para a produção de uma boa uva, seu cultivo requer cuidados e técnicas especiais. No entanto, devido aos fungos que atacam as plantações, os agricultores enfrentam dificuldades e são obrigados a recorrerem a fungicidas. Um dos principais problemas é a incidência do Panonychus ulmi — conhecido como ácaro vermelho europeu —, espécie que provoca a queda das folhas, prejudicando o desenvolvimento das flores e dos brotos, afetando a qualidade da uva.
De acordo com Ferla, a vitivinicultura no Rio Grande do Sul é antiga, desenvolvida com base nas videiras americanas. Foi só recentemente que começaram a ser elaborados vinhos finos com uvas europeias produzidas em vinhedos em sistema de espaldeira. “As videiras europeias estão sendo adaptadas aqui, e muitas vezes elas têm resistência menor que as americanas”, explica.
O conhecimento do ciclo de vida dos ácaros praga e dos ácaros predadores é essencial para estratégias de controle eficientes e que enfatizem as questões ambientais e de saúde — no caso do consumo da uva e de vinhos. Além disso, entender o efeito do tratamento de pesticidas sobre as populações dos ácaros fitófagos ou predadores presentes na cultura é importante para contribuir de forma efetiva no manejo da cultura.
Conhecimento repassado aos produtores
Durante o projeto “Manejo de vinhedos”, os modelos de produção adotados na vitivinicultura regional serão estudados por professores, mestrandos e doutorandos dos Programas de Pós-Graduação da Univates em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD), em Biotecnologia (PPGBiotec) e em Sistemas Ambientais Sustentáveis (PPGSAS).
Depois, como consequência do projeto, o conhecimento gerado e as tecnologias criadas de combate às doenças e pragas serão repassados aos produtores em cursos de capacitação. “É uma exigência desse financiamento pelo Banco Mundial”, conta Ferla. “O que é, na verdade, a grande virtude desse projeto”, afirma.
Saiba mais
– O Rio Grande do Sul é responsável por 90% da produção nacional de uvas, vinhos e derivados, conforme o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin)
– Em 2014, a produção de vinhos, sucos e derivados foi de 507,84 milhões de litros no RS, segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE)
– No ano passado, o RS produziu 38,4 milhões de litros de vinhos finos
– Em 2015, o Brasil colheu 70,4 milhões de quilos de de uvas Vitis vinifera
– Todos os anos, as vinícolas brasileiras vendem uma média de 15,5 milhões de litros de espumantes – ou 20,6 milhões de garrafas.
Texto: Ascom Univates