Esta semana recebi, em uma rede social por parte de um grande amigo, um texto onde sucintamente o autor atribuía ao que ele chamou de pseudo-liberais brasileiros as pessoas que se manifestam a favor do Estado mínimo no Brasil. Dentre as razões que ele cita para assim classificar esta fatia da população que hoje se manifesta com mais veemência nas ruas ele cita a contradição entre o discurso de liberdade com a ideologia reacionária e conservadora defendida por eles em muitos pontos.
Em tese o autor está correto, pois se alguém prega a liberdade total e incondicional do indivíduo deve respeitar toda e qualquer manifestação e opção feito por este. Porém, por outro lado, a manifestação que vejo, e confesso até ser simpatizante, é a das pessoas defendendo um Estado mínimo porque na realidade estão pontualmente decepcionadas com o que o poder público brasileiro vem ofertando em contrapartida à produção e pagamento de impostos dos seus cidadãos. No fundo até acho que as pessoas gostariam de ter um Estado forte, que realmente trabalhasse para a equidade de condições para todos, pelo menos na busca de uma mínima desigualdade social assim como em muitos sistemas existentes pelo mundo.
Contudo, dois fatores primordiais não permitem tal sonho utópico se tornar realidade no Brasil. O primeiro e fundamental é o estado natural do ser humano, um ser egoísta por natureza e com essa característica mais fortemente aflorada quando se trata principalmente de classes de pessoas que possuem poder, seja ele político ou financeiro. Está em nosso DNA, e a história mostra isso repetidamente, que, apesar de sermos seres sociais pois aprendemos a conviver e ter limites e regras para isso, em muitas oportunidades a humanidade nos “presenteia” com atrocidades que provam que não somos tão bons assim. Obviamente a grande maioria luta para que estejamos sempre atentos aos maus, mas na primeira oportunidade, por menor que seja, se for para defendermos nosso território ou nossa individualidade, podemos cometer delitos sociais como qualquer um. É natural.
O segundo fator até tem a ver com o primeiro, mas é mais forte em nosso caso, pois trata-se da cultura enraizada do Estado patrimonialista brasileiro, desde seus primórdios. Em relação ao Brasil, além desse instinto individualista, recebemos o que eu chamo de herança cultural maldita na criação de nosso Estado. Já falei sobre isso aqui e relembro aquilo que considero como o pior castigo que nossa terra, que tem tudo para ser a melhor do mundo, recebeu: o patrimonialismo político brasileiro. Um sistema que recebemos de nossos “colonizadores” onde o Estado deve ser servido pelo povo, e pior, existe para que poucas castas sociais “se sirvam” da coisa pública. Ou seja, pagamos impostos para recebermos em troca burocracia e corrupção.
É exatamente esse o ponto que chego para continuar sendo um defensor do que o autor chamou de pseudo-liberalismo brasileiro. Nós trabalhadores, pagadores de impostos, pessoas comuns que não vivem das benesses públicas (empresários inescrupulosos que se utilizam do dinheiro do povo para tapar seus erros também se enquadram nos patrimonialistas que nos atrasam) queremos sim um Estado mínimo, uma intervenção menor no que tange a burocracia estatal que atrasa processos de desenvolvimento, uma liberdade maior para agir como criadores de soluções não só para o mercado, mas para a melhora da vida das pessoas, queremos um Estado competente que possa nos dar em retorno algo compatível com o que lhes pagamos, desejamos uma classe política, judiciária e legislativa com espírito público, que sirvam a população e que não se sirvam dela. Se esse é o pseudo-liberalismo brasileiro, confirmo o que disse em debate com meu amigo, sou um convicto defensor disso.
Fredi Camargo – Cientista Político
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