O maior dilema do governo Sartori já foi exposto desde seu começo, como trabalhar com o enxugamento da máquina com apoio popular. A falta de recursos financeiros no para a manutenção das contas do Estado sempre foi posta como o maior desafio pela equipe atual que se encontra no Piratini. A vantagem do governador é ter uma base aliada na Assembleia Legislativa que lhe permite executar as mudanças estruturais que ele alegam serem necessárias para o enxugamento das despesas.
O problema político de Sartori contudo consiste em conciliar o discurso de austeridade, com remodelação do Estado, com ares de modernidade administrativa e práticas que ainda mostram que o interesse político em alguns “feudos” prevalece.
Tudo bem em querer extinguir fundações e autarquias que realmente fazem-nos questionar suas existências como CORAG e outras mais, que mostram claramente uma necessidade de reaparelhamento e uma nova visão sobre o que realmente deve ser de responsabilidade pública e o que não deve. Já citei aqui que o brasileiro tem uma herança maldita de dependência praticamente total do poder público, imposta pela poder público diga-se de passagem, e que deveríamos nos acostumar, e ao Estado, a não precisarmos da anuência estatal para praticamente todas as nossas atividades.
Obviamente é uma mudança cultural radical e passa por muitos pontos e esferas que tornam a tarefa praticamente impossível. Mas voltando ao RS, o que o povo cobra é que essa política de estado mínimo, claramente ideológica, seja também estendida para outras áreas. O poder legislativo e o poder judiciário não foram profundamente atingidos por nenhuma crise financeira e se “escondem” na cortina da “autonomia entre os poderes”. Pois então vejamos, se o poder executivo é o provedor de recursos pois é nele que se arrecada a fonte pagadora (impostos) não seria justo que os demais também tivessem que passar por reformulações e ajustes em tempos de crises?
Mas não passam, e aí a conta acaba sendo cobrada somente do governador. Óbvio, ele sabia dessa situação, é também uma posição política dele optar por esse tipo de solução, mas esse dilema de ficar entre a cruz e a espada também mostra uma face do egoísmo institucional que existe, onde claramente o paternalismo das classes, com a defesa individual de interesses.
Sobra para quem está do lado mais fraco da corda do poder. Há necessidade de enxugamento? Particularmente acho que há. Mas que ele seja total, com aplicabilidade em todos os poderes, com cortes profundos em todas as esferas. Somente assim, com o engajamento de todo o poder público é que poderemos realmente entender que querem mudar o RS, ou caso contrário o discurso será ideologicamente combatido coma dúvida da veracidade da situação financeira alegada pelo governo.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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