As plantas que hoje são cultivadas na agricultura tiveram origem nas plantas que cresciam de forma selvagem nas matas e campos. Como plantas silvestres não precisavam ser plantadas para nascer, nem de cuidados para crescer e dar frutos, sua utilização pelos humanos dava-se através da coleta, e não do cultivo.
Com o passar do tempo as pessoas começaram a fazer pequenos manejos, como desbaste e eliminação de espécies competidoras e através da observação identificavam e selecionavam as melhores plantas de cada espécie e as levavam para cultivar em locais próximo às habitações: os quintais.
O cultivo mais próximo à moradia facilitava o cuidado e a observação, o que levou ao acúmulo de conhecimento, que junto com as necessidades dos seres humanos deu origem à domesticação e seleção de espécies de interesse.
Este processo, denominado “domesticação”, foi acontecendo ao longo do tempo e de geração em geração. Domesticar, no caso de uma cultura agrícola, significa transformar as características naturais da planta em características interessantes para o aproveitamento humano. A domesticação acontece por meio da escolha de algumas plantas que apresentam as características que mais interessam para serem cultivadas, gerando exemplares melhorados a cada repetição deste processo.
Como exemplo de domesticação podemos citar o caso da mandioca, ou aipim, que se encontrava em estado selvagem nas florestas da América do Sul e ao longo de milhares de anos foi sendo domesticada pelos diferentes grupos indígenas que habitavam esta região. O início do processo de domesticação das plantas é considerado o início da atividade agrícola.
As sementes crioulas são aquelas que não sofreram um processo de melhoramento industrial e resistiram ao tempo e diferentes locais de produção, pela prática da agricultura tradicional e pelas trocas de sementes e mudas realizadas pelos agricultores.
A agricultura desenvolvida por povos tradicionais e aqueles que a praticam exerceram e ainda exercem uma grande contribuição na manutenção das variedades crioulas. Vale ressaltar o papel da mulher neste processo, já que alguns estudos mostram que as mulheres eram responsáveis pela coleta de sementes e o cultivo de plantas nas áreas cultivadas próximo às aldeias. Em nossos dias, as hortas para consumo familiar, normalmente cultivadas pelas mulheres, mantêm uma enorme diversidade de espécies, entre flores, temperos, frutos, hortaliças e raízes.
Outra prática fundamental que era realizada pelas mulheres e que ainda hoje permanece no meio rural, é a troca de sementes e mudas com vizinhas. Este hábito, que também possui um sentido de solidariedade, de gentileza e de manutenção dos laços de amizade, tem sua origem nos primórdios da agricultura e faz parte do processo de domesticação e manutenção das variedades crioulas.
Cultivar espécies crioulas é um resgate da autonomia dos agricultores e uma estratégia de segurança e soberania alimentar.
Mais informações procure a EMATER/RS-ASCAR.
Andreza Girelli – Extensionista Rural Social da Emater/RS-Ascar – Escritório Municipal de Encantado
** Material consultado: Biodiversidade – Passado, Presente e Futuro da Humanidade. ONG Centro Ecológico, outubro/2006.